
O duro discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na manifestação de 7 de Setembro na Avenida Paulista, continua repercutindo em Brasília. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que o governador deveria procurar a Corte nos próximos dias para dar explicações sobre as falas em que chamou o ministro Alexandre de Moraes de “tirano” e defendeu uma anistia ampla a Jair Bolsonaro e aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro.
Até agora, não houve contato direto de Tarcísio com o tribunal — apenas interlocutores informaram reservadamente sobre a situação. A expectativa é que, em algum momento, o governador tente recompor a relação, embora aliados admitam que fazê-lo agora poderia soar como recuo.
Crise calculada
Três ministros ouvidos pela imprensa afirmaram que a radicalização foi um movimento político calculado, com objetivo de fortalecer Tarcísio junto à base bolsonarista no momento em que o ex-presidente enfrenta julgamento no STF. Na visão desse grupo, o governador deixou de lado a imagem de moderado e assumiu um tom semelhante ao de lideranças como o pastor Silas Malafaia.
Apesar da escalada, ministros não acreditam que Tarcísio vá romper de fato com a Corte, apontando o episódio como um “reforço pontual” motivado pelo calendário político.
Repercussão no Supremo
A fala também provocou respostas públicas. O decano Gilmar Mendes lembrou que crimes contra o Estado Democrático de Direito não são passíveis de anistia e afirmou que no Brasil “não há ditadura da toga”. Já o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, destacou que, ao contrário da ditadura, os processos hoje são públicos, transparentes e acompanhados pela sociedade.
Nos bastidores, parte dos ministros considera que o episódio reforça a necessidade de o tribunal lidar com o debate sobre propostas de anistia que circulam no Congresso, embora a maioria mantenha a posição de que qualquer perdão amplo seria inconstitucional.
Aliados divididos
Entre aliados de Tarcísio, há quem reconheça que o tom foi mais alto do que o habitual e que o governador se mostrou desconfortável com a repercussão negativa no Judiciário. Ainda assim, a avaliação predominante é de que o gesto era necessário para sinalizar fidelidade a Bolsonaro e à sua base.
Com o ato, Tarcísio tenta equilibrar duas frentes: manter sua imagem como possível sucessor do ex-presidente em 2026 e preservar pontes com o Supremo, onde sempre teve trânsito político acima da média entre bolsonaristas.