Fux diz que mensalão foi “abolição do Estado democrático de Direito” e causa reação no PT

Ministro do STF citou esquema de compra de apoio político como “golpe gradual” que desfigurou instituições

Fux diz que mensalão foi “abolição do Estado democrático de Direito” e causa reação no PT
Rosinei Coutinho/SCO/STF
Ministro Fux

O julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou contornos inesperados nesta quarta-feira (10) com a fala do ministro Luiz Fux. Durante a leitura de seu voto, ele afirmou que o mensalão, escândalo julgado entre 2012 e 2014, foi uma verdadeira “abolição do Estado democrático de Direito”, em referência ao esquema de compra de apoio político revelado no governo do PT.

Segundo Fux, o caso simbolizou uma tentativa de “dominar o Parlamento e controlar a qualquer custo o exercício do poder estatal”, por meio da apropriação de recursos públicos e da corrupção sistemática. Ele classificou a prática como um “golpe gradual”, que desequilibrava a disputa eleitoral e desestimulava a oposição.

A declaração provocou incômodo entre parlamentares petistas presentes ao julgamento. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) chegou a questionar o colega Rogério Correia (PT-MG): “Isso sim, isso aqui não?”, numa referência à comparação de Fux entre o mensalão e os ataques de 8 de janeiro.

O episódio também resgatou polêmicas antigas. Em 2013, o ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão, acusou Fux de ter prometido absolvê-lo quando ainda era ministro do STJ e buscava apoio político para chegar ao Supremo. O petista afirmou ter sido “assediado moralmente” por meses. O então deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) também relatou ter ouvido de Fux a frase: “Esse assunto eu mato no peito porque conheço. E sei como tratar”, em referência ao processo.

Na época, Fux reconheceu ter se reunido com parlamentares e réus, mas negou qualquer promessa, alegando que apenas havia levado seu currículo para ser encaminhado ao presidente Lula. Apesar da controvérsia, acabou indicado ao STF em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff (PT), sucedendo o ministro Eros Grau.

O julgamento da trama golpista deve ser concluído nesta semana, mas a fala de Fux ampliou a temperatura política ao remeter ao passado e reacender feridas históricas envolvendo o PT e o escândalo do mensalão.