Número de suicídios dispara em Minas com conivência do poder público

Levantamento do TCE-MG mostra alta de 25% nos casos entre 2018 e 2023, enquanto mais de 300 cidades não investiram em prevenção

Número de suicídios dispara em Minas com conivência do poder público
Setembro amarelo

Um levantamento do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) expôs um cenário alarmante: mesmo com o crescimento de 25% na taxa de suicídios entre 2018 e 2023, 305 dos 853 municípios mineiros não registraram qualquer gasto em ações de prevenção no último ano.

Em 2023, Minas atingiu taxa de 9,23 casos por 100 mil habitantes — superior à média nacional de 8,05. O dado representa um salto em relação a 2018, quando o índice era de 7,37. Ao todo, foram empenhados R$ 117 milhões no estado para iniciativas de saúde mental, mas a distribuição foi desigual: enquanto Barbacena destinou R$ 70,93 por habitante, Bocaiúva investiu apenas R$ 0,04.

A disparidade regional se reflete também no acesso a serviços especializados. Apenas 291 municípios possuem pelo menos um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Microrregiões como Pedra Azul chegam a ter 80% de cobertura, mas em locais como São João del Rei e Itajubá o índice não passa de 8%.

O estudo mostra ainda um perfil preocupante: os homens representam 75,8% dos óbitos, com taxa quase quatro vezes maior que a feminina. Além disso, o problema atinge cada vez mais jovens: em 2023, a faixa etária de maior risco foi a de 30 a 39 anos, e entre adolescentes mulheres de 15 a 19 anos, o risco chegou a ser 5,3 vezes maior que a média estadual.

O TCE-MG também apontou que falhas estruturais e desigualdade na distribuição de profissionais agravam o quadro. Enquanto municípios como Mantena contam com mais de 8 psiquiatras por 100 mil habitantes, outros, como Sete Lagoas, não chegam a 1,5.

Especialistas alertam que, sem políticas públicas consistentes de prevenção, o avanço dos casos tende a continuar. Para Francisco Assumpção, psiquiatra infantil, a violência e o adoecimento mental nas escolas refletem a falta de vínculos sociais e afetivos. Já a pesquisadora Cléo Garcia lembra que “a escola e a comunidade são espelhos da sociedade, e quando não há suporte adequado, os sintomas aparecem em múltiplas formas de sofrimento”.

Enquanto Minas investe mais em algumas regiões e negligencia outras, a realidade é que centenas de cidades seguem sem destinar recursos à prevenção, deixando milhares de mineiros sem apoio adequado diante de um problema que cresce ano após ano.

Em caso de necessidade, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo número 188 ou pelo site oficial.