
O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou em decisão que o ex-presidente da Codevasf, Marcelo Andrade Moreira Pinto, tentou obstruir as investigações da Polícia Federal sobre suspeitas de fraudes em contratos da estatal. A manifestação foi feita em julho, quando o magistrado autorizou a quinta fase da Operação Overclean.
Segundo depoimentos citados na decisão, Marcelo pressionou o então superintendente regional da Codevasf em Juazeiro (BA), Miled Cussa Filho, a recuar em ofícios que denunciavam irregularidades em obras da empresa Allpha Pavimentações, executadas em Campo Formoso (BA). O município é administrado por Elmo Nascimento (União-BA), irmão do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), responsável pela indicação de Marcelo à presidência da estatal ainda no governo Bolsonaro mantida depois pelo governo Lula.
Cussa Filho relatou à PF que Marcelo o orientou a procurar Elmar e o prefeito Elmo “sem portar celular”, para “restabelecer a confiança”. Dias depois de se recusar, foi exonerado. Para Nunes Marques, a sequência de fatos caracteriza tentativa de obstrução.
Marcelo deixou a Codevasf em junho, antes da deflagração da operação. Ainda assim, teve influência na escolha do sucessor, Lucas Felipe Oliveira, apontado como seu aliado, com apoio também do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Criada para projetos de irrigação e combate à seca, a Codevasf viu seu orçamento disparar nos últimos anos com as chamadas emendas de relator o orçamento secreto. De R$ 1,2 bilhão em 2019, saltou para R$ 3,3 bilhões em 2022. Parte desses recursos foi destinada a Campo Formoso, onde duas obras de pavimentação, orçadas em R$ 40 milhões, concentram as suspeitas de fraude.
A estatal afirmou em nota que “mantém compromisso com a elucidação dos fatos e com a integridade de suas ações”, e que seguirá colaborando com as autoridades.