O “Careca do INSS” na mira da CPI

Com a descoberta de patrimônio milionário em nome de parentes, comissão aumenta a pressão sobre empresário para que ele colabore com as investigações e entregue o esquema.

O “Careca do INSS” na mira da CPI
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careca do INSS

A CPI do INSS intensificou a pressão sobre o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, após a descoberta de uma complexa rede de empresas no Brasil e no exterior, além de movimentações financeiras milionárias e atípicas, todas ligadas a seus familiares. A cúpula da comissão acredita que a exposição da teia de negócios da família pode ser o fator decisivo para motivar uma delação premiada.

Para os integrantes da comissão, a situação jurídica do empresário é extremamente delicada, o que poderia levá-lo a entregar os nomes e os mecanismos do suposto esquema de fraudes no INSS para poupar sua esposa e filhos. A colaboração representaria um avanço significativo para a CPI, que busca ir além das investigações já conduzidas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU).

Conforme a matéria publicada pelo Estadão, a CPI já mapeou que a esposa de Camilo Antunes, Tânia Carvalho dos Santos, e seus dois filhos, Danilo Carvalho Antunes e Romeu Carvalho Antunes, de 22 e 28 anos, respectivamente, aparecem em relatórios da PF e da comissão como participantes do suposto esquema das associações que realizava descontos ilegais de aposentadorias.

A investigação da polícia revelou transações suspeitas que apontam para a família de Camilo Antunes como possível meio de ocultação de bens. Um cartório do Distrito Federal, por exemplo, comunicou transações imobiliárias atípicas entre o empresário e sua mulher, com transferências de um mesmo imóvel “sucessivas vezes” em um curto período, em um total de R$ 353 milhões, uma prática suspeita de ocultação de recursos.

A PF também descobriu que o “Careca do INSS” comprou R$ 11 milhões em imóveis usando uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, e que seu filho, Romeu, também abriu duas offshores na Flórida.

Um descuido de um dos filhos, Danilo, também foi crucial para o avanço das investigações. Segundo a PF, ele foi visto observando “de forma minuciosa” dois carros de luxo (uma Ferrari e uma Mercedes) que teriam sido escondidos por investigados no estacionamento de um shopping de Brasília na véspera de uma operação policial. O carro que Danilo usava estava em nome da empresa de seu irmão e de outro suspeito, identificado como possível “laranja” do esquema.

Apesar da disposição inicial de Camilo Antunes em depor, ele mudou de ideia após uma decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que tornou sua presença opcional. Em resposta, a CPI convocou a esposa e os filhos do empresário. O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou ao Estadão que a delação premiada “não é algo descartado”.

A defesa de Camilo Antunes, em nota, comunicou que os familiares não são obrigados a depor e que poderão se recusar a falar, usando os “mecanismos judiciais cabíveis”.