O uso de aeronaves oficiais pelo governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), caminha na contramão de seu discurso de campanha e levanta questionamentos sobre a gestão dos recursos públicos. Zema, que duramente criticou a “farra” com o uso de aviões públicos por seu antecessor, Fernando Pimentel (PT), já realizou 382 voos em aeronaves do estado em seu novo mandato, segundo um levantamento detalhado do site Itatiaia, que analisou registros entre janeiro de 2023 e agosto de 2025.
Em 2019, Zema chegou a anunciar a venda de aeronaves para cumprir a promessa de campanha, afirmando que em seu governo “não haveria espaço para esse tipo de mordomia, privilégios ou desperdício de dinheiro público”. No entanto, a prática mudou: os números mostram que a frequência de viagens oficiais aumentou significativamente durante o período da campanha eleitoral de 2024. No recorte geral, a média é de um voo a cada 2,5 dias, mas entre 15 de agosto e 27 de outubro de 2024 (período oficial da campanha municipal), Zema fez 55 viagens em 73 dias, o que representa um voo a cada 1,3 dia. Este aumento na frequência de voos por dia foi de 92%.
Araxá, cidade natal de Romeu Zema e berço do Grupo Zema, também se tornou um destino frequente. O município foi origem de 14 voos e destino em 20 oportunidades, somando 34 voos no total, o que significa ao menos um voo por mês. Este número é superior aos 33 voos somados para cidades mais populosas da região, como Uberlândia, Uberaba e Patos de Minas. O Governo de Minas justificou as viagens citando a importância econômica e estratégica do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e a boa estrutura dos aeroportos, incluindo o de Araxá.
O levantamento da Itatiaia também revela que Zema utilizou as aeronaves oficiais para ir a destinos onde participou de atos de caráter político e eventos privados. Em abril deste ano, por exemplo, o governador usou um avião do estado para ir a Porto Alegre palestrar no “Fórum da Liberdade”, que contou com a participação de figuras como Nikolas Ferreira (PL) e Caio Coppola. Outro caso foi em agosto, quando ele viajou para São Paulo três dias antes do lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República. O Governo de Minas defendeu o uso do transporte por questões de segurança previstas em decreto e afirmou que o governador cumpriu agendas institucionais nesses períodos.
O Governo também disse que o alto número de 16 aeronaves diferentes utilizadas se deu por um sistema de rodízio implementado para atender a outras demandas do estado, como saúde, segurança e salvamento, reiterando o discurso de que os aviões não são mais exclusivos para uso do governador. De todos os voos realizados, mais de 70% aterrissaram em solo mineiro, mas o governador viajou para 11 estados diferentes, com São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro sendo os destinos interestaduais mais frequentes.