
O ministro Luís Roberto Barroso anunciou nesta quinta-feira (9) sua aposentadoria antecipada do Supremo Tribunal Federal (STF), encerrando uma trajetória de 12 anos e três meses na mais alta Corte do país. A informação foi divulgada pelo Estado de Minas.
Durante a sessão plenária, Barroso fez um discurso emocionado em tom de agradecimento e reflexão, defendendo a democracia, a educação pública e a importância da civilidade em tempos de acirramento político. “O radicalismo é inimigo da verdade. Devemos ter cuidado para não nos apaixonar pelas próprias razões”, afirmou o ministro, aplaudido pelos colegas.
Barroso, que presidiu o STF até o início da semana, destacou que pretende seguir “outros rumos”, dedicando-se à literatura e à espiritualidade. “Não tenho apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta”, disse.
Em sua fala, o ministro elogiou o papel da imprensa livre e responsável, ressaltando sua importância diante da desinformação. “Nunca precisamos tanto da imprensa que checa as notícias e distingue fato de opinião. Mentir precisa voltar a ser errado de novo”, declarou.
Barroso também prestou homenagem ao colega Alexandre de Moraes, reconhecendo sua atuação na defesa das instituições democráticas. “Somos solidários com os preços pessoais elevados que está tendo que pagar, e que um dia a história há de reconhecer e reparar”, afirmou.
Indicado ao Supremo em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff (PT), Barroso construiu carreira de destaque como advogado e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atuou em casos de grande impacto, como o reconhecimento das uniões homoafetivas, a Lei de Biossegurança e a autorização da interrupção da gestação em casos de anencefalia fetal.
No STF, consolidou-se como um dos principais defensores dos direitos fundamentais e da transparência institucional, sendo relator de decisões relevantes, como a suspensão de despejos durante a pandemia, a autorização do transporte público gratuito nas eleições de 2023 e o reconhecimento da violação de direitos humanos no sistema prisional brasileiro.
Ao encerrar seu discurso, Barroso citou versos de Pablo Neruda para expressar seu afeto pelo país. “Mil vezes tivera que nascer, e eu queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, eu queria morrer aqui — mas não agora”, brincou, arrancando aplausos dos ministros.
Com sua saída, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá indicar um novo nome para ocupar a vaga no Supremo nas próximas semanas.