Brasil concentra quase metade do desmatamento tropical global, alerta relatório

Estudo internacional aponta que o país responde por 47% da perda de florestas úmidas do planeta em 2024 e destaca avanços em rastreabilidade e bioeconomia — mas alerta: meta de desmatamento zero até 2030 ainda está fora de alcance.

Brasil concentra quase metade do desmatamento tropical global, alerta relatório

Faltando menos de um mês para a COP30, que será sediada em Belém (PA), um relatório global sobre florestas tropicais traz um retrato preocupante: o mundo está longe de atingir a meta de desmatamento zero até 2030, e o Brasil responde sozinho por quase metade da devastação registrada em 2024. O estudo, divulgado pela Avaliação da Declaração Florestal e citado pelo GLOBO, mostra que os países cumpriram apenas 37% das metas ambientais assumidas desde a COP26, em Glasgow.

Segundo o levantamento, o Brasil perdeu 3,84 milhões de hectares de florestas tropicais úmidas no ano passado — o equivalente a 47,3% da perda global. Apesar de uma queda de 22% no desmatamento em relação a 2023, o país ainda mantém níveis três vezes maiores que o necessário para alcançar as metas climáticas. O estudo ressalta que o Brasil também é o maior emissor global de gases provenientes de mudanças no uso da terra, com mais de 40% das emissões mundiais ligadas à destruição florestal.

O relatório reconhece, contudo, avanços em rastreabilidade ambiental, bioeconomia e governança digital, destacando iniciativas como o Selo Verde, o Plano Nacional de Identificação de Bovinos e Búfalos e a plataforma AgroBrasil+Sustentável, que fortalecem a transparência nas cadeias produtivas. Ainda assim, aponta que mais de 90% do desmatamento na Amazônia continua ilegal e que a política ambiental brasileira enfrenta riscos com mudanças legislativas recentes, como a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que, segundo o estudo, pode fragilizar o controle sobre a devastação.

As florestas brasileiras continuam sob intensa pressão de interesses econômicos e decisões políticas, e o relatório alerta que o país “vive uma encruzilhada histórica”: pode consolidar-se como líder global da transição verde ou repetir o ciclo de avanços e retrocessos que marca sua política ambiental há décadas.

O documento também chama atenção para a responsabilidade das nações ricas, que, por meio de suas cadeias de consumo, exportam até 15 vezes mais desmatamento do que geram em seus próprios territórios. Mesmo assim, o peso do Brasil segue determinante para o futuro climático global.