
A Câmara dos Deputados já gastou R$ 3,3 milhões para manter as estruturas de gabinete de três parlamentares que, nos últimos dois anos, estiveram presos ou fora do Brasil, sem participação ativa nas sessões. O levantamento, feito pelo Estadão, aponta que os deputados Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP) seguem com gabinetes operando normalmente — com salários pagos por verbas públicas — apesar da ausência prolongada e, em alguns casos, da perda de mandato.
Os casos acenderam um alerta dentro e fora da Casa. Parlamentares da base governista classificam os gastos como um “escárnio” e querem aprovar um projeto para acabar com o que chamam de “deputado home office”.
📉 Quem são os deputados e quanto foi gasto
Chiquinho Brazão (preso):
➤ R$ 1,9 milhão em salários de equipe
➤ Mesmo detido preventivamente por envolvimento no assassinato de Marielle Franco, continuou recebendo salário (com desconto por faltas) e mantendo 24 assessores.
➤ Perdeu o mandato apenas em abril de 2025, após acúmulo de ausências.
Eduardo Bolsonaro (no exterior):
➤ R$ 900 mil em estrutura de gabinete
➤ Está fora do país desde março, após licença de quatro meses. Mesmo com o prazo encerrado, não retornou nem justificou presença, mas manteve 9 servidores pagos com recursos da Câmara (custo mensal: R$ 132,4 mil).
Carla Zambelli (presa na Itália):
➤ R$ 300 mil desde o afastamento
➤ Após ser condenada pelo STF a 10 anos por invasão de sistemas, foi presa na Itália. A Câmara manteve sua equipe de 12 funcionários, que custaram R$ 103,2 mil só em setembro.
💰 Como funciona a manutenção dos gabinetes
De acordo com a Câmara, parlamentares que tiram licença médica ou por interesse pessoal mantêm a estrutura de gabinete, que pode ser usada por seus suplentes. No entanto, no caso de Zambelli e Eduardo, os gabinetes permaneceram funcionando mesmo sem substituição clara ou presença dos titulares.
Os assessores dizem continuar “cumprindo funções legislativas e de atendimento à população”, ainda que seus chefes estejam impedidos de atuar diretamente.
⚖️ Pressão por mudanças nas regras
O deputado Alencar Santana (PT-SP) apresentou um projeto que exige que deputados estejam em território nacional durante o exercício do mandato. A proposta também impede o uso do cargo para ações contra a soberania nacional e pode levar à perda de mandato em casos de ausência injustificada.
“É ilógico ser eleito para representar o povo e exercer o mandato de outro país”, afirmou Santana.
🧠 Análise política: “arapuca” sem solução
Segundo o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da FGV, a situação é um problema de imagem para o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
“Quando a Câmara mantém pagamentos a parlamentares que não prestam serviço algum, a confiança do eleitor derrete.”
Levantamento da Genial/Quaest mostra que 83% dos brasileiros acreditam que deputados atuam em benefício próprio, e 58% desaprovam a atuação da Câmara.