
A operação que deixou 64 mortos no Rio de Janeiro nesta terça-feira (28) ultrapassou os limites da segurança pública e se transformou em uma disputa aberta entre o governador Cláudio Castro (PL) e o governo Lula (PT). A ação, voltada contra o Comando Vermelho, mobilizou 2,5 mil agentes e resultou em dezenas de mortes, prisões e reações políticas em Brasília.
Castro acusou o governo federal de “abandonar o Rio” e afirmou que o estado estaria “sozinho” no combate ao crime organizado, alegando que pedidos de apoio haviam sido negados. O Ministério da Justiça, no entanto, respondeu que nunca recebeu solicitação formal e que a responsabilidade pela segurança pública é dos estados.
O ministro Ricardo Lewandowski reagiu de forma contundente. De agenda no Ceará, afirmou que “o combate ao crime deve ser feito com planejamento e inteligência”, e provocou Castro ao dizer que, se o governador se sente incapaz, “deve pedir GLO ou intervenção federal”. A declaração elevou ainda mais o tom do confronto.
A crise levou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) a convocar uma reunião emergencial com ministros da Justiça, Defesa e Casa Civil. Enquanto isso, a oposição explorou o episódio politicamente: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) publicou vídeo afirmando que “Lula abandonou o Rio”, em referência à fala recente do presidente de que “traficantes também são vítimas dos usuários”.
Parlamentares da base governista reagiram acusando Castro de usar a tragédia para se projetar eleitoralmente. “Ele tenta antecipar o debate de 2026 e jogar para a extrema direita a narrativa da violência”, disse o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ).
O episódio reacendeu o debate sobre a PEC da Segurança Pública, proposta pelo governo federal para integrar ações entre União e estados. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a aprovação da PEC e afirmou que a operação no Rio “mostra a urgência de uma articulação nacional no combate ao crime organizado”.
Para especialistas, o embate revela mais um capítulo da politização da violência. Segundo Carolina Ricardo, diretora do Instituto Sou da Paz, “megaoperações como essa não desmantelam o crime organizado, apenas geram novas mortes e ampliam o impacto sobre comunidades vulneráveis”.
Com a tragédia convertida em disputa de narrativas, a segurança pública se consolida como um dos temas centrais da corrida presidencial de 2026, dividindo Lula, Cláudio Castro e a direita bolsonarista em torno de quem fala mais alto em nome da lei e da ordem.