Ministra de Lula chama operação no Rio de “tragédia” e promete perícia independente nas mortes

Macaé Evaristo criticou a ação policial que deixou 121 mortos e afirmou que o governo federal vai acionar peritos independentes, com possível apoio da PF, para garantir transparência nas investigações.

Ministra de Lula chama operação no Rio de “tragédia” e promete perícia independente nas mortes
Eduardo Anizell

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, fez duras críticas à megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que terminou com 121 pessoas mortas, entre elas quatro policiais. Em visita à comunidade nesta quinta-feira (31), a ministra classificou a ação como “um fracasso” e anunciou que o governo federal vai pedir uma perícia independente para esclarecer as circunstâncias das mortes.

“Na nossa avaliação, a perícia feita no local está comprometida. É fundamental uma análise técnica, feita com independência e transparência”, afirmou Macaé após se reunir com familiares das vítimas e lideranças comunitárias na sede da Central Única das Favelas (Cufa).

Durante o encontro, que também contou com a presença da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, Macaé declarou que a Polícia Federal poderá participar das análises e confirmou que os peritos da PF já estão à disposição. A iniciativa ocorre após a Defensoria Pública do Rio denunciar que foi impedida de acompanhar as perícias no Instituto Médico Legal (IML).

“Segurança é direito de todos, não privilégio de alguns”

Para a ministra, a operação expôs uma lógica de segurança pública que precisa ser revista com urgência.

“Não se combate o crime organizado atacando os territórios mais vulneráveis. Segurança pública é um direito da população, e precisa caminhar junto com políticas de saúde, educação e proteção social”, afirmou.

Macaé também anunciou apoio psicológico, assistência jurídica e proteção a testemunhas para familiares e moradores das áreas atingidas.

Durante o encontro, um morador cobrou a divulgação das imagens das câmeras corporais dos policiais que participaram da operação. A ministra prometeu incluir o pedido entre as ações do ministério.

Dor e revolta nas falas das famílias

Os depoimentos de parentes das vítimas emocionaram a comitiva. Segundo a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), que participou da visita, “as histórias são dilacerantes”. Ela relatou que uma mulher mostrou à equipe um vídeo em que encontrava a cabeça de um parente degolado em meio à mata da Serra da Misericórdia.

“Já acompanhei muitos casos de violência no Rio, mas nunca vi nada semelhante”, disse Talíria, chorando.

A parlamentar também criticou o governo Cláudio Castro (PL), chamando de “covardia” a decisão de vetar a participação da Defensoria Pública nas perícias e acusou o Estado de tentar criminalizar as famílias das vítimas.

Governo do Rio defende operação

Enquanto o Ministério dos Direitos Humanos classificou a ação como “um horror inominável”, o governador Cláudio Castro afirmou que a operação foi “um sucesso” no enfrentamento ao crime organizado. A diferença de tom reforça o conflito político entre o governo federal e o estadual, que se intensificou após as mortes.

A visita da comitiva que reuniu também deputados federais como Benedita da Silva (PT-RJ), Chico Alencar (PSOL-RJ), Glauber Braga (PSOL-RJ) e Otoni de Paula (MDB-RJ) terminou com a promessa de novas ações de acompanhamento às famílias e cobrança por transparência total nas investigações.

“O que vimos aqui é um cenário de dor, medo e abandono. O Estado precisa estar presente para proteger vidas, não para destruí-las”, concluiu Macaé Evaristo.