
O ex-presidente Michel Temer afirmou que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desperdiçou a oportunidade de assumir o protagonismo na coordenação nacional da segurança pública e de consolidar políticas de integração entre União, estados e municípios. Segundo ele, “está claro o que precisa ser feito, mas o governo não faz”.
Em entrevista, Temer lembrou que durante seu mandato criou o Ministério da Segurança Pública e estruturou o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) — um modelo que buscava conectar e padronizar as ações das polícias Federal, Civil e Militar, além da Força Nacional, das guardas municipais e do sistema penitenciário.
O objetivo era permitir cooperação técnica, compartilhamento de informações e operações integradas, reduzindo sobreposição de esforços e fortalecendo o enfrentamento nacional ao crime organizado. “O que observo do noticiário é que todos acham que a União deveria assumir a coordenação da segurança no país, o que compreendi logo no início do meu governo”, disse o ex-presidente.
Para Temer, o problema atual é político: a falta de continuidade administrativa e a resistência em reconhecer avanços de gestões anteriores. “Não faz parte da lógica das gestões petistas estimular políticas herdadas de outros governos”, afirmou.
A crítica surge no contexto da crise aberta após a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes. Inicialmente, Lula defendeu uma atuação conjunta entre União e estados, mas dias depois mudou o tom, classificando a ação como “matança” e cobrando investigação da Polícia Federal sobre a conduta das forças estaduais.
Para o ex-presidente, esse tipo de reação fragiliza a autoridade do Estado e desestimula a integração entre os entes federativos. “A segurança pública exige coordenação nacional, e isso só pode ser liderado pelo governo federal”, defendeu.
Enquanto o Congresso trava a aprovação de novas regulamentações para o setor, o Sistema Único de Segurança Pública segue sem aplicação plena um projeto engavetado que, na visão de Temer, poderia ter evitado parte do caos e da desarticulação vistos hoje no país.
“Falta liderança e continuidade. A segurança é dever do Estado, e o Estado é um só”, resume o ex-presidente.