Bolsonaro se isola à medida que prisão se aproxima

Pedidos de visita ao ex-presidente caem 74% enquanto o STF mantém a condenação a 27 anos de prisão e antigos aliados se afastam.

Bolsonaro se isola à medida que prisão se aproxima

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta um dos períodos mais solitários de sua trajetória política. À medida que se aproxima o momento em que poderá ser preso em regime fechado, o número de pessoas que pedem autorização para visitá-lo em prisão domiciliar despencou 74% nos últimos três meses, segundo levantamento da Coluna do Estadão.

Nas primeiras semanas após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o colocou em prisão domiciliar, foram 123 pedidos de visita. Agora, o número caiu para apenas 32 — e, em novembro, até o dia 7, haviam sido apenas 10 solicitações. Entre os visitantes mais frequentes estão familiares, como o irmão Renato Bolsonaro, e integrantes de um grupo de oração da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Um dos nomes que mais insistiram em manter contato foi o do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, responsável por nove pedidos. Em outubro, no entanto, o ministro Alexandre de Moraes proibiu o acesso após reabrir investigação sobre o envolvimento de Valdemar na tentativa de golpe de Estado.

Aliados próximos descrevem Bolsonaro como abatido, com crises frequentes de soluço consequência das cirurgias feitas após o atentado de 2018 e cada vez mais desanimado com o cenário político. “Ele se sente esquecido”, relatou uma fonte próxima à família.

A solidão de Bolsonaro reflete também um movimento de distanciamento entre lideranças da direita. Com a base política enfraquecida, o ex-presidente observa figuras como Michelle e Flávio Bolsonaro ganharem protagonismo, enquanto antigos aliados mantêm silêncio ou preferem se afastar.

Condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe, Bolsonaro só deve ser levado ao regime fechado após o trânsito em julgado do processo — ou caso o STF considere os recursos apresentados pela defesa como manobras protelatórias.

Antes símbolo de multidões, o ex-presidente agora enfrenta a solidão do isolamento político. De ícone de um movimento nacional a figura cercada pelo silêncio, Bolsonaro vive o reflexo de um projeto que perdeu o fôlego.