
O projeto que prometia unir forças liberal-conservadoras e ampliar o espaço da direita no Congresso começa a desmoronar antes mesmo de sair do papel. A federação entre o PP e o União Brasil, batizada de União Progressista, acumula crises internas, desfiliações e impasses regionais que colocam em dúvida sua consolidação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A iniciativa, articulada pelos presidentes Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União), pretendia criar um bloco de peso para 2026, somando estrutura, fundo partidário e tempo de TV. Mas, na prática, virou um campo minado de desconfianças. A resistência de nomes influentes — entre eles o governador Ronaldo Caiado (União-GO) — expôs o tamanho das divergências. Para ele, o projeto “amplificou rivalidades locais e provocou uma fuga de quadros”.
Nos bastidores, dirigentes admitem que a fusão vem provocando perdas significativas. No Paraná, dois dos principais expoentes da bancada ruralista romperam com o bloco: Pedro Lupion migrou para o Republicanos, com aval de Tarcísio de Freitas, enquanto Felipe Francischini deve seguir para o Podemos, insatisfeito com o fortalecimento de Sergio Moro, pré-candidato ao governo estadual e hoje o principal nome da União no estado.
No Rio de Janeiro, o impasse passa pelo comando do diretório e pela indefinição sobre a disputa ao governo. O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), tenta consolidar sua liderança, mas enfrenta divergências entre os que apoiam Eduardo Paes (PSD) e os que desejam enfrentá-lo. O PP fluminense, comandado pelo deputado Doutor Luizinho, mantém maior coesão, mas evita definir posição.
Em São Paulo, as tensões são igualmente acirradas: o ex-presidente da Câmara Municipal Milton Leite (União) e o deputado Maurício Neves (PP) disputam o comando estadual do futuro bloco. Na Paraíba, o deputado Mersinho Lucena (PP) cogita sair do partido após o pai, o prefeito Cícero Lucena, migrar para o MDB. No Acre, o clima é de ruptura total entre o senador Alan Rick (União) e o governador Gladson Camelli (PP), que já não participam de reuniões conjuntas.
Apesar da debandada, lideranças nacionais insistem que o projeto vai adiante. ACM Neto, vice-presidente do União, minimiza as crises e afirma que a federação “é fato consumado”. Já Tereza Cristina (PP-MS), líder no Senado, diz que a formalização é “questão de tempo”.
O pedido ainda está em análise inicial no TSE e precisa ser homologado até abril de 2026 para valer nas próximas eleições. Mesmo assim, cresce entre as bases a percepção de que a União Progressista nasceu antes do tempo — e que o discurso de união tem sido ofuscado pela prática das divisões.