
O governo federal intensificou, nos últimos meses, a contratação de influenciadores digitais para divulgar políticas públicas e fortalecer a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais. A prática, que vem sendo adotada também por instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Partido dos Trabalhadores (PT), consolidou o governo como o maior financiador de conteúdo político impulsionado no Facebook e no Instagram, segundo dados da plataforma Meta.
Em setembro, os gastos com anúncios e parcerias digitais chegaram a R$ 8,4 milhões, valor 360% maior do que nos dois meses anteriores. A estratégia tem como foco aproximar a comunicação oficial de públicos diversos — especialmente jovens e eleitores afastados da política tradicional — por meio de criadores de conteúdo que misturam entretenimento, humor e temas sociais.
Entre os nomes contratados estão Paulo Victor “PV” Freitas, conhecido por conteúdos sobre o Nordeste, e Isis Vieira, atriz que aborda a cultura amazônica. Há também influenciadores que tratam de temas políticos de forma direta ou indireta, como Lauany Schultz, Carolline Sardá e Thiago Foltran, que passaram a divulgar programas como o Luz para Todos e o projeto de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil.
A oposição questiona o volume de recursos e a falta de transparência sobre os critérios de escolha. Deputados federais pediram explicações à Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) sobre os contratos, mas até agora o órgão não divulgou detalhes sobre os valores individuais, prazos e metas das ações.
A iniciativa também tem se expandido para eventos oficiais. Em setembro, alguns dos influenciadores participaram do encontro “Desperta 2025 – A Revolução Necessária”, promovido pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), e, recentemente, estiveram em uma visita à Usina de Itaipu, organizada pelo governo federal.
Especialistas em comunicação política apontam que o movimento reforça uma nova dinâmica no relacionamento entre o Estado e o público digital ao mesmo tempo em que amplia o alcance das políticas públicas, aproxima a narrativa institucional da militância virtual. A estratégia, porém, reacende o debate sobre limites éticos e transparência no uso de recursos públicos para influenciar a opinião política.
A poucos meses de um novo ciclo eleitoral, o governo aposta no poder de engajamento das redes para disputar corações, mentes e algoritmos — um terreno onde a política, a publicidade e a ideologia se encontram em alta voltagem.