
Novos documentos do caso Jeffrey Epstein, divulgados por parlamentares republicanos nos Estados Unidos, trouxeram à tona uma troca de emails em que o financista menciona Lula e Bolsonaro em diálogos sobre política brasileira. As mensagens, datadas de 2018, sugerem que Epstein teria recebido uma ligação de Noam Chomsky com o então ex-presidente Lula na linha. A Secretaria de Comunicação da Presidência nega a informação e afirma que o telefonema “nunca aconteceu”.
Chomsky visitou Lula na prisão em Curitiba naquele ano, mas não há registro oficial de qualquer comunicação telefônica. Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que tal ligação seria incompatível com as regras rígidas da carceragem da Polícia Federal. “Visitas eram monitoradas e nenhum aparelho eletrônico era permitido”, explica o advogado criminal Pedro Paulo de Medeiros.
As mensagens revelam que Epstein e um interlocutor não identificado comentaram o cenário eleitoral brasileiro. Em um trecho, o interlocutor afirma que seu “garoto venceria no primeiro turno”, enquanto Epstein cita uma mensagem atribuída a Lula ao Partido dos Trabalhadores. Em seguida, o financista escreve: “Bolsonaro é o cara”, referindo-se ao então candidato do PL. A troca também inclui comentários generalizados sobre a política na América do Sul e previsões de crise na Argentina.
Os emails aparecem em um momento de disputa entre democratas e republicanos pela narrativa sobre o histórico de Epstein —acusado de abuso e tráfico sexual de menores e encontrado morto em sua cela em 2019. A publicação dos documentos ocorre após democratas divulgarem mensagens que sugeriam conhecimento prévio de Donald Trump sobre os abusos atribuídos ao financista. Em resposta, republicanos liberaram conversas que mencionam Lula, Bolsonaro e líderes de outros países.
Além dos trechos sobre o Brasil, os documentos mostram que Epstein discutia negócios envolvendo compra de caças e operações financiadas por grandes potências. Em uma das conversas, um interlocutor afirma trabalhar diretamente com governos estrangeiros, incluindo o brasileiro, em acordos desse tipo. No fim de 2013, o governo Dilma Rousseff fecharia contrato para a compra dos caças Gripen com a sueca Saab.
A divulgação reacende debates sobre a amplitude da rede de Epstein, que conectava políticos, empresários e intelectuais de vários países. No centro da controvérsia está a pressão para que os Estados Unidos tornem públicos todos os arquivos do caso, uma demanda que vem tanto da oposição democrata quanto da base de apoio trumpista. Para muitos, a lista completa de envolvidos permanece a principal sombra sobre um escândalo ainda longe de se encerrar.