
A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (13), expôs com ainda mais clareza o núcleo técnico que sustentou o maior esquema já identificado de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS. No centro das investigações está André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do instituto, acusado de receber R$ 3,4 milhões em propinas entre 2023 e 2024 para facilitar pagamentos irregulares e blindar o grupo responsável pelas fraudes.
Segundo a PF, Fidelis não atuava sozinho. Ele integrava uma engrenagem que envolvia empresários, operadores financeiros, dirigentes do INSS e até agentes políticos. O ex-diretor é apontado como peça essencial para manter ativo o convênio entre o INSS e a Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares), entidade que, de acordo com os investigadores, é o epicentro das irregularidades.
A corporação relata que Fidelis — identificado nas mensagens interceptadas como “Herói A” — recebia repasses sistemáticos por meio de empresas de fachada comandadas pelo operador financeiro Cícero Marcelino. Além disso, teria sido nomeado ao cargo por influência direta de Carlos Roberto Ferreira, presidente da Conafer e apontado como líder do esquema, que buscava garantir proteção institucional para a continuidade dos descontos indevidos.
As cifras revelam a gravidade do caso: R$ 708 milhões foram descontados ilegalmente de benefícios previdenciários, afetando centenas de milhares de aposentados e pensionistas. Parte desse fluxo era sustentado pela omissão fiscalizatória do próprio Fidelis, que assinou novos acordos com entidades associativas mesmo após os primeiros indícios de fraude.
Outros nomes também foram arrastados para o centro do inquérito. O ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, preso preventivamente, teria autorizado desbloqueios em lote contrariando normas internas e pareceres jurídicos. Virgílio Oliveira Filho, então procurador-geral do INSS, é acusado de referendar decisões que favoreceram o esquema e cujas ligações com empresas investigadas chamaram a atenção dos policiais.
A PF ainda cumpriu mandados contra o ex-ministro da Previdência no governo Bolsonaro, José Carlos Oliveira, que terá de usar tornozeleira eletrônica, e contra dois parlamentares: o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e o deputado estadual Edson Araújo (PSB-MA). Na casa deste último, agentes encontraram maços de dinheiro vivo em um cofre.
As defesas dos citados foram procuradas. Pettersen afirma não ter relação ilícita com a Conafer e nega vínculo com decisões do INSS. Os demais não se manifestaram até o fechamento deste texto.
Com 63 mandados de busca e 10 prisões, a nova fase da Operação Sem Desconto aprofunda a dimensão de um esquema que se ramificou por dentro do Estado e atingiu justamente quem deveria ser protegido: os segurados do INSS.