
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem se consolidado como uma liderança capaz de dialogar para além das fronteiras tradicionais da direita. É o que revela um recorte da pesquisa A Cara da Democracia 2025, realizada entre 17 e 26 de outubro com 2.500 entrevistas presenciais em todo o país. O estudo mostra que, entre os brasileiros que declaram “gostar ou gostar muito” do governador, há uma presença maior de eleitores que optaram por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno de 2022 — um traço que diferencia Tarcísio de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o levantamento, 22% dos simpatizantes de Tarcísio afirmam ter votado em Lula, enquanto entre os admiradores de Bolsonaro esse índice cai para 10%. Embora não seja uma diferença numericamente ampla, especialistas consideram o dado relevante por indicar maior permeabilidade de Tarcísio em camadas que não se identificam com a direita radical.
O comportamento também aparece no espectro ideológico. Entre os que demonstram aprovação ao governador, 22% se posicionam entre a esquerda e o centro, enquanto 71% se identificam com a direita. No grupo bolsonarista, os percentuais são semelhantes, mas com leve tendência a maior homogeneidade: 20% à esquerda ou centro e 73% à direita.
Em termos de religião, as variações são discretas, mas reveladoras. Católicos representam 48% dos simpatizantes de Tarcísio, ante 42% entre os apoiadores de Bolsonaro. Já os evangélicos aparecem com 37% entre os admiradores do governador e 39% no grupo do ex-presidente.
A composição por faixa etária também traz nuances interessantes. Tarcísio tem melhor desempenho entre eleitores com 65 anos ou mais (15%), quase o dobro do registrado entre bolsonaristas (9%). Já os jovens de 18 a 34 anos têm menor presença entre seus simpatizantes.
Regionalmente, o governador paulista também demonstra certo trânsito fora de sua base natural. No Nordeste, 23% dos entrevistados que “gostam” de Tarcísio vivem na região, superando os 21% do grupo pró-Bolsonaro. O Sul aparece como ponto de menor aderência ao governador, com 15% de representatividade — abaixo dos 18% do ex-presidente.
O nível de escolaridade oferece outro elemento de diferenciação: 19% dos simpatizantes de Tarcísio têm ensino superior completo, contra 16% no grupo bolsonarista.
Embora a pesquisa não tenha como finalidade medir intenção de voto, o cruzamento dos dados ilumina diferenças no comportamento político de cada público. Um exemplo está na avaliação do governo Lula: 15% dos que gostam de Tarcísio consideram a gestão federal ótima ou boa, mais que o dobro dos simpatizantes de Bolsonaro (6%).
Para o cientista político Leonardo Avritzer, os números ajudam a entender a distância entre as duas lideranças dentro da mesma família ideológica. “A rejeição a Bolsonaro é mais alta e a polarização entre ele e Lula é mais forte. Poucos eleitores do presidente topariam migrar para Bolsonaro em um cenário eleitoral. Já no caso do Tarcísio, há um processo de desradicalização, porque ele consegue atrair parte do eleitorado lulista”, afirma.
Avritzer pondera, porém, que o governador ainda enfrenta um desafio central: consolidar sua projeção nacional. “É preciso observar se ele conseguiria manter esse perfil mais plural ao tentar expandir uma candidatura para fora de São Paulo”, diz.
A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, com 95% de confiança. Entre os entrevistados que demonstraram alta simpatia, foram analisadas 497 respostas sobre Tarcísio e 739 sobre Bolsonaro. Nos recortes específicos, a margem de erro tende a aumentar.