PF revela esquema de propina ligado ao ex-presidente do INSS e rastreado por mensagens internas da Conafer

Investigações apontam pagamentos mensais de até R$ 450 mil ao servidor apelidado de “Italiano”, além de uso de empresas intermediárias para mascarar vantagens ilegais

PF revela esquema de propina ligado ao ex-presidente do INSS e rastreado por mensagens internas da Conafer

As investigações da Polícia Federal sobre fraudes envolvendo descontos irregulares em benefícios do INSS ganharam novos contornos com a divulgação de diálogos que detalham como funcionavam as ordens de pagamento de propina dirigidas ao ex-presidente do órgão, Alessandro Stefanutto, preso na semana passada. Segundo a PF, as mensagens apreendidas revelam a engrenagem financeira operada pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais (Conafer), que teria usado contratos e empresas de fachada para escoar recursos desviados de aposentados e pensionistas.

Os diálogos mostram que Carlos Lopes, presidente da Conafer e atualmente foragido, comandava de forma direta a distribuição de valores ilícitos. Ele se comunicava com o operador financeiro da entidade, Cícero Marcelino preso na operação, repassando instruções sobre repasses destinados a Stefanutto, identificado pelo codinome “Italiano”. As conversas registram ordens explícitas como “só paga o italiano” e “você está levando aqueles 50 do italiano?”, referindo-se a valores de R$ 50 mil.

O material apreendido pela PF traz planilhas de contabilidade interna que, segundo os investigadores, confirmam a prática sistemática de propina. Em diversas mensagens de 2022, Lopes envia o contato telefônico de Stefanutto a Marcelino, orientando-o sobre entregas de valores. À época, Stefanutto ainda não presidia o INSS, atuando como procurador. No entanto, após sua nomeação para o comando máximo do órgão, em julho de 2023, os investigadores apontam que a quantia mensal destinada a ele aumentou para R$ 250 mil sinal de que seu papel no esquema se tornou mais estratégico.

As planilhas identificadas no celular de Marcelino registram pagamentos recorrentes entre fevereiro e agosto de 2024, sempre vinculados ao apelido “Italiano”. Em setembro, o valor indicado salta para R$ 450 mil. A PF afirma ter cruzado as informações desses arquivos com transferências bancárias, entre elas uma de R$ 50 mil destinada ao escritório Stelo Advogados e Associados, no mesmo dia em que as mensagens indicavam o repasse a Stefanutto. Empresas ligadas a Marcelino, incluindo até uma pizzaria, teriam sido usadas como veículos para disfarçar a destinação dos recursos.

A defesa do ex-presidente do INSS voltou a negar qualquer irregularidade e classificou sua prisão como “injusta”. Em nota anterior, os advogados afirmaram que Stefanutto sempre atuou com rigor técnico, negando que tenha servido como “facilitador institucional” para interesses privados. Já a Conafer também rejeitou as acusações, alegando que coopera com as investigações e criticando o que classificou como abordagem “sensacionalista” de parte da imprensa.

Enquanto isso, Carlos Lopes e os demais investigados ligados à Conafer não responderam às solicitações de posicionamento. A PF sustenta que o conjunto de mensagens, planilhas internas e movimentações financeiras confirma a existência de um esquema articulado, no qual vantagens indevidas eram proporcionais ao poder hierárquico de servidores envolvidos e onde o comando do INSS, segundo a investigação, desempenhava papel crucial para manter o fluxo de descontos irregulares sobre os benefícios previdenciários.