Maurício Locks: “Brasileiros não estão cansados dos extremos”

Maurício Locks: “Brasileiros não estão cansados dos extremos”

Hugo Motta é o político que tenta agradar a todos, mas não agrada a ninguém. Eleitor quer clareza, identidade e propósito

O “extremocentrismo” — a tentativa de ocupar todos os espaços ideológicos ao mesmo tempo, mirando em todos os públicos e acertando em nenhum — vive hoje esgotamento cada vez mais evidente. Não se trata de crise de identidade, como alguns analistas costumam afirmar. É pior que isso: trata-se de uma crise de falta de identidade.

Poucos encarnam tão bem essa lógica quanto Hugo Motta, deputado federal pelo Estado da Paraíba, presidente da Câmara dos Deputados e filiado ao Republicanos. Ele se movimenta como quem executa um malabarismo permanente para agradar a todas as plateias. A consequência é previsível: um personagem político que não mobiliza, não inspira e não se ancora em nada.

Enquanto Motta aposta na velha tese de que o povo está cansado dos extremos, a realidade dos números conta outra história. O ranking de engajamento digital dos políticos brasileiros, hoje um dos termômetros mais precisos do humor do eleitor, demonstra que quem domina a atenção do público pertence aos clusters mais definidos: extrema esquerda e extrema direita. São eles que acumulam as maiores bases, o engajamento mais intenso e a capacidade real de acionar suas audiências.

Quem acredita que o Brasil rejeita radicalidades lê o país de trás para a frente. Os números mostram justamente o contrário. O eleitor quer clareza, identidade e propósito, concorde-se ou não com o conteúdo. O público prefere quem sabe exatamente o que é, mesmo que seja extremo, a quem tenta vestir todos os figurinos ao mesmo tempo.

O extremocentrismo entrega algo completamente diferente: discursos elásticos, posicionamentos calculados ao milímetro e uma plasticidade que enfraquece qualquer narrativa. No caso de Motta, isso se traduz numa marca evidente. É o político que tenta agradar a todos, mas não agrada a ninguém. Na política hiperconectada, onde tudo tem rosto, tom e direção, essa ambiguidade não seduz. Ela esvazia.

A crise dessa estratégia não é conjuntural. É estrutural. Num cenário em que identidade vale mais que qualquer slogan, o extremocentrismo se mostra incapaz de sustentar uma base fiel ou de disputar atenção com quem se posiciona de forma clara. O eleitor reconhece autenticidade. E também reconhece quando ela falta.

Motta, nesse contexto, deixa de ser exceção e se torna síntese. É o retrato de um modelo político que tenta existir por ausência, e não por convicção.

O extremocentrismo não fracassa porque escolheu o meio-termo. Fracassa porque escolheu não se definir. E, na política brasileira de hoje, isso tem custado caro.