
O Prêmio Nobel da Paz de 2025 concedido à venezuelana María Corina Machado reacendeu um debate que o governo brasileiro tenta evitar. Enquanto o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) celebrou o reconhecimento à opositora de Nicolás Maduro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve silêncio, mesmo após o episódio em que ironizou a líder democrática no ano passado.
Em março de 2024, quando o regime chavista impediu María Corina de disputar a presidência da Venezuela, Lula afirmou que ela deveria “parar de chorar”, comparando o episódio à sua própria inelegibilidade em 2018. “Fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, indiquei outro candidato”, disse, em referência a Fernando Haddad. A venezuelana respondeu publicamente: “Eu chorando, presidente Lula? O senhor diz isso porque sou mulher? O senhor não me conhece.”
A fala do presidente brasileiro voltou a circular nas redes sociais após o anúncio do Nobel. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos primeiros a resgatar o vídeo, destacando que “enquanto María Corina recebe o Nobel da Paz por lutar contra a ditadura, Lula continua apoiando Maduro”. O senador Sergio Moro (União-PR) também relembrou que a líder venezuelana já havia sido ouvida no Senado brasileiro, em 2022, quando participou por videoconferência de uma sessão sobre ataques à democracia promovidos pelo regime Maduro. Essa foi a segunda vez que Maria Corina foi ouvida pelo congresso brasileiro, a líder venezuelana esteve no Senado em 2014, à convite do próprio Aécio Neves.
Em nota, Aécio afirmou que o prêmio representa “uma justiça histórica” e que a trajetória de María Corina “inspira toda a América Latina na luta pela liberdade”. O parlamentar lembrou que o PSDB sempre apoiou a oposição democrática da Venezuela e que a comitiva de senadores que liderou em 2015 chegou a ser hostilizada por militantes chavistas em Caracas.
O episódio reacende um contraste incômodo para o Palácio do Planalto. Enquanto Aécio e outras lideranças políticas celebram a coragem de María Corina Machado, o governo Lula evita qualquer manifestação pública. O silêncio do presidente brasileiro sobre o Nobel da Paz de 2025 reforça a percepção de que o discurso oficial de defesa da democracia segue condicionado à conveniência ideológica.