
O ex-diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e idealizador do programa Fome Zero, José Graziano da Silva, afirmou nesta quinta-feira (12) que o centro da fome no Brasil deixou de ser o sertão nordestino e agora está concentrado na região amazônica.
As declarações foram dadas após um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Embaixada do Brasil em Roma, onde o petista participa da abertura do Fórum Mundial da Alimentação 2025, evento que celebra os 80 anos da FAO. As informações são do UOL.
Segundo Graziano, os indicadores de segurança alimentar no país mostram leve melhora em relação a 2023, resultado da valorização do salário mínimo e da recomposição de políticas sociais, mas a fome “se tornou localizada e mais difícil de combater”.
“O grande foco da fome hoje é a Amazônia. O garimpo e o mercúrio estão destruindo as condições de vida da população. Quando a natureza é devastada, quem depende dela para pescar, caçar ou produzir seu alimento perde a capacidade de se sustentar”, afirmou.
O pesquisador destacou que o Nordeste, historicamente o principal foco da fome, vem registrando redução constante da insegurança alimentar, impulsionado por programas sociais e pelo acesso à renda. Já na Amazônia, fatores ambientais e o isolamento agravam o problema, especialmente entre indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
Graziano, que comandou a FAO entre 2012 e 2019, lembrou uma frase que costumava repetir em fóruns internacionais: “Se quiser salvar vidas, salve o meio ambiente primeiro.” Para ele, o combate à fome e a preservação da floresta são causas inseparáveis.
COP30 e o desafio climático
O ex-diretor também comentou as expectativas para a COP30, que será realizada em Belém (PA) em 2026. Ele afirmou que o evento tem potencial para recolocar o Brasil no centro das discussões ambientais, mas alertou para o atraso nas metas globais de sustentabilidade.
“Precisamos colocar os pingos nos is: desmatamento zero, plano de saída do petróleo e metas reais para 2030. Estamos atrasados em tudo”, disse.
Sobre a decisão do governo de autorizar uma nova plataforma de petróleo da Petrobras próxima à Amazônia, Graziano afirmou que a exploração pode ocorrer “com segurança e rigor ambiental”, desde que acompanhada por tecnologia avançada e fiscalização permanente.
“A Petrobras tem capacidade técnica para operar com segurança. O problema não é extrair, é continuar aumentando o uso. O desafio é reduzir a dependência do petróleo e convencer os países produtores a entrar nessa transição”, concluiu.