
O crescimento da violência e o avanço das facções criminosas em estados do Nordeste governados pelo PT acenderam um sinal de alerta no Palácio do Planalto. Dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que a Bahia e o Ceará lideram os índices de mortes por intervenção policial e de crimes violentos um cenário que contrasta com o discurso de Lula de priorizar a defesa da vida e a redução da letalidade policial.
A preocupação do governo é dupla: conter o avanço do crime e evitar que o tema se torne um flanco político vulnerável para a oposição em 2026. Em meio ao desgaste, Lula tem buscado uma “vitrine” na segurança pública, especialmente em estados sob comando petista, para mostrar resultados concretos antes das eleições.
Na Bahia, o presidente elogiou recentemente uma operação conjunta entre a Polícia Civil e a Polícia Federal, que prendeu 38 pessoas ligadas ao Comando Vermelho. O contraste com a megaoperação no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, foi explorado por aliados do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que tenta se alinhar ao discurso presidencial. “Não é papel do Estado matar”, disse o governador, destacando a queda dos homicídios em 2025 e a redução de ataques a bancos.
Mas os números baianos continuam alarmantes: desde 2022, o estado ocupa o topo do ranking nacional de mortes causadas por ações policiais. Segundo o sociólogo Antonio Lima, que pesquisa o tema, o problema é estrutural. “O PT governa a Bahia há 20 anos, e quase todo o efetivo atual da PM foi formado sob gestões petistas. O modelo de segurança escolhido foi o de confronto permanente”, avalia.
No Ceará, o governador Elmano de Freitas (PT) segue um caminho diferente. Tem defendido a “atuação firme” da polícia e elogiado operações que terminam em mortes. “Em um confronto entre policial e bandido, que morra o bandido”, declarou na semana passada. O discurso agrada parte do eleitorado, mas contrasta com a orientação nacional do partido. Apesar da letalidade policial menor que a da Bahia, o Ceará figura entre os três estados com maior taxa de mortes violentas do país.
A crise de segurança no Nordeste também expõe a complexa relação entre o crime e a política. Em Santa Quitéria (CE), o ex-prefeito Braguinha (PSB) teve o mandato cassado após a Justiça Eleitoral comprovar o apoio de uma facção criminosa à sua campanha. Investigações mostraram que aliados do então gestor levaram R$ 1,5 milhão à favela da Rocinha, no Rio, como pagamento por esse apoio.
Para reverter o quadro e criar uma referência positiva, o governo federal aposta em projetos-piloto como o de Natal (RN), lançado pelo Ministério da Justiça em parceria com a USP. A iniciativa busca retomar territórios dominados por facções, levando serviços públicos como iluminação, postos de saúde e programas sociais, numa tentativa de consolidar presença do Estado onde o crime se enraizou.
Na última semana, o ministro Ricardo Lewandowski reuniu secretários de Segurança do Consórcio Nordeste para coordenar novas operações e alinhamentos estratégicos. Ele elogiou ações recentes nos estados da Bahia e do Piauí, este último sob o comando de Rafael Fonteles (PT), que tem atuado em parceria com a Polícia Federal contra esquemas de lavagem de dinheiro ligados ao PCC.
Entre o discurso e a prática, o Planalto tenta equilibrar a narrativa de respeito aos direitos humanos com o imperativo de mostrar eficiência. Lula sabe que, na percepção popular, segurança pública virou sinônimo de resultado — e não de retórica. O desafio é transformar ações pontuais em política de Estado, antes que a violência no Nordeste se torne mais um ponto de desgaste para o governo.