
Leilão de 2022 arrecadou menos de R$ 1 bilhão e garantiu à União só 5,9% do petróleo extraído; descoberta da BP em 2025 é a maior do pré-sal em 25 anos e reacende debate sobre soberania energética.
O leilão realizado em 2022, no governo do então presidente Jair Bolsonaro, voltou a gerar polêmica depois do anúncio, em agosto de 2025, da maior descoberta de petróleo da costa brasileira em um quarto de século. O bloco Bumerangue, na Bacia de Santos, foi entregue à petroleira britânica BP em condições hoje vistas como excessivamente vantajosas para a empresa e pouco rentáveis para o país.
Na época, a BP pagou R$ 460 milhões para obter o direito de exploração — dentro de um leilão que arrecadou ao todo R$ 916 milhões com cinco blocos. A proposta da companhia incluiu o compromisso de investir ao menos R$ 432 milhões no campo e oferecer ao governo brasileiro apenas 5,9% do excedente de óleo produzido, o menor percentual já registrado em certames desse tipo.
Descoberta bilionária
Três anos depois, a aposta da petroleira se revelou altamente lucrativa: o bloco abriga reservas avaliadas em cerca de R$ 770 bilhões, segundo estimativas iniciais. O poço pioneiro, perfurado a quase 6 mil metros de profundidade, confirma a existência de um dos maiores campos de petróleo e gás do pré-sal, com extensão de centenas de quilômetros quadrados.
Enquanto o contrato garante à União participação limitada, a maior parte da produção será destinada à empresa estrangeira. O contraste entre os valores envolvidos — centenas de milhões pagos em 2022 frente a centenas de bilhões em reservas em 2025 — alimenta críticas sobre a condução da política energética no período.
Debate sobre soberania
À época, o então diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rodolfo Sabóia, classificou o leilão como “um sucesso para o Brasil”, ressaltando a atração de investimentos e a segurança regulatória para as empresas.
Do outro lado, sindicatos e especialistas já alertavam para os riscos de perda de soberania. Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, a operação significou entregar o controle de recursos estratégicos a investidores internacionais:
“A operação reforça a perda de controle nacional sobre recursos estratégicos, enquanto expõe o recuo da petroleira britânica em relação à transição energética”, afirmou.
Entre investimentos e críticas
O caso do Bumerangue ilustra a tensão entre dois modelos: de um lado, a aposta em atrair capital estrangeiro para acelerar a exploração do pré-sal; de outro, a visão de que a abertura excessiva reduz o retorno ao país e compromete a capacidade do Brasil de definir sua política energética.
A descoberta histórica deve reposicionar o Brasil no mapa mundial do petróleo, mas também reacende o debate sobre como transformar riquezas naturais em benefícios duradouros para a população — e sobre se o país, mais uma vez, vendeu barato um ativo que valia muito mais.