
A cesta básica ideal já custa R$ 432 por pessoa, segundo levantamento do Instituto Pacto Contra a Fome. O valor está fora do alcance de mais de 70% da população, revelando a distância entre o que seria uma alimentação adequada e a realidade econômica da maioria das famílias brasileiras.
De acordo com o estudo, que utiliza critérios nutricionais e dados do Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição (NEBIN), esse valor representa 21,4% da renda média mensal per capita do país, que em abril era de R$ 2.020. Ou seja, mesmo sem contar moradia, transporte ou saúde, garantir uma alimentação adequada consome um quinto da renda média — e ultrapassa completamente o orçamento das camadas mais vulneráveis.
Segundo Ricardo Mota, gerente do instituto, os números evidenciam um problema estrutural: “É um alerta grave. A alimentação adequada, garantida por lei, segue inacessível para a maioria. Precisamos de políticas públicas focadas na redução da insegurança alimentar, com base em dados”.
Inflação de alimentos agrava cenário
A situação se torna ainda mais crítica diante da alta de preços de produtos essenciais. Em abril, a inflação no grupo Alimentação e Bebidas foi de 0,82%, acima do índice geral de 0,43%. Entre os maiores aumentos estão a batata (18,29%), o tomate (14,32%) e o café moído (4,48%).
Houve queda em alguns itens, como arroz (-4,19%), feijão preto (-5,45%) e mamão (-5,96%), mas a volatilidade dos alimentos in natura, altamente sensíveis a clima e safra, mantém a pressão sobre o orçamento das famílias de baixa renda, que sentem até 2,5 vezes mais os efeitos da inflação alimentar do que os mais ricos.
O estudo deixa claro que, enquanto o país não adotar políticas consistentes de proteção social e estímulo à segurança alimentar, a cesta básica ideal seguirá fora do alcance da maioria da população, aprofundando desigualdades e limitando o direito fundamental à alimentação.