
A sinalização do senador Flávio Bolsonaro de que assumirá o papel de herdeiro político do bolsonarismo e tratará sua candidatura como irreversível redesenha o tabuleiro eleitoral para os próximos anos. Ao reafirmar o protagonismo da família Bolsonaro na direita, o movimento acaba reacendendo um desejo antigo de parte expressiva do eleitorado: a construção de uma terceira via viável e competitiva no cenário nacional.
A polarização entre Lula e Bolsonaro, que domina a política brasileira desde 2018, pode ganhar um novo contorno. Com Flávio ocupando o espaço mais ideológico da direita, abre-se uma janela para lideranças que buscam se afastar tanto do lulismo quanto do bolsonarismo, explorando um campo de centro-direita ainda pouco organizado, mas cada vez mais demandado por eleitores.
Esse movimento já começa a ganhar corpo. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é visto por setores do centrão como um nome natural para liderar essa alternativa, ainda que evite assumir publicamente uma candidatura. Paralelamente, o PSDB tenta se reposicionar sob a liderança de Aécio Neves, que defende a construção de uma frente de centro-direita sem radicalismos e afirma que o país não pode continuar refém de escolhas políticas empobrecidas.
Apesar de minimizar o enfraquecimento recente do PSDB, Aécio reconhece que o partido passou por um processo de encolhimento e tenta agora reconstruir identidade e relevância. O movimento tucano se soma a outras articulações, especialmente entre governadores e lideranças que buscam se descolar da lógica bolsonarista sem migrar para o campo governista.
Outro fator que pressiona o sistema é o surgimento de novas siglas e projetos políticos. A criação da Missão, partido ligado ao MBL, promete uma oposição de direita ao bolsonarismo e já sinaliza candidaturas ao Planalto, ao Congresso e a governos estaduais. Além disso, cresce a especulação sobre o aparecimento de um outsider, alguém sem trajetória tradicional na política, capaz de canalizar o cansaço do eleitorado com os nomes de sempre.
Pesquisas recentes indicam que cerca de um quarto dos eleitores prefere um candidato que não tenha ligação nem com Lula nem com Bolsonaro. Esse dado alimenta o discurso de renovação, mas também preocupa lideranças partidárias, que veem no outsider tanto uma oportunidade quanto um risco de aprofundar a fragmentação política.
Analistas ponderam que, apesar da demanda, o sucesso de uma terceira via não é automático. O capital político de Lula e a influência persistente de Bolsonaro, mesmo fora do poder, ainda funcionam como barreiras relevantes. Para parte dos cientistas políticos, a direita dificilmente conseguirá se reorganizar sem dialogar, em algum nível, com o legado bolsonarista.
Ainda assim, o cenário de 2026 começa a se desenhar de forma diferente. Com Flávio Bolsonaro consolidando a direita ideológica e Lula mantendo o controle do campo progressista, surge, talvez pela primeira vez em anos, um espaço real para que uma terceira via deixe de ser apenas um desejo e passe a disputar o centro do poder no Brasil.