
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado, recém-condecorada com o Prêmio Nobel da Paz, afirmou à AFP que vê uma “contagem regressiva” para a saída do presidente Nicolás Maduro — seja por vias negociadas, seja por pressão externa e interna. As declarações foram dadas três dias após o anúncio do prêmio e repercutidas pelo GLOBO.
Em entrevista em vídeo, María Corina disse que a oposição está disposta a oferecer garantias para uma transição pacífica, mas se recusou a revelar detalhes dessas garantias até que haja uma mesa de negociação. “Com negociação, sem negociação, ele (Maduro) vai deixar o poder”, afirmou, ao mesmo tempo em que evitou especular sobre medidas concretas.
A premiada dedicou o Nobel “ao povo da Venezuela” e também ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — gesto que reafirma o estreitamento de laços com Washington, sobretudo em meio à mobilização naval americana no Caribe. A Casa Branca apresenta a operação como combate ao narcotráfico; Caracas qualificou o movimento como assédio. María Corina defendeu as manobras estadunidenses como parte de uma pressão legítima para desarticular redes que, segundo ela, sustentam o regime.
Ao comentar a conjuntura militar e internacional, a opositora fez um sinal claro a Maduro: se o presidente optar por aumentar a repressão, “as consequências serão de sua responsabilidade direta”. Ela ressaltou, porém, que a oposição venezuelana dispõe primordialmente de organização política, denúncia e pressão cidadã, e não de armamento.
A líder também afirmou manter contatos “cada vez maiores” com setores militares e com governos aliados na Europa e na América Latina. Enquanto isso, o governo venezuelano respondeu com medidas diplomáticas, incluindo o fechamento temporário da embaixada em Oslo, após o anúncio do Nobel.
María Corina vive há mais de um ano em condição de quasi-clandestinidade, desde que foi impedida de disputar a eleição de 2024 por decisões de órgãos eleitorais controlados pelo chavismo. Na entrevista, ela voltou a afirmar que as eleições de julho de 2024 foram fraudadas e que o verdadeiro vencedor teria sido outro candidato opositor.
O discurso da nova laureada reacende tensões regionais e divide avaliações: para apoiadores, o Nobel prestigia a resistência à ditadura; para críticos, a combinação de posições beligerantes e apoio a pressões externas suscita dúvidas sobre os rumos da transição que propõe.