
Antes mesmo de ser instalada, a CPI do Crime Organizado já provoca apreensão no Palácio do Planalto. Para auxiliares próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a nova comissão tem potencial para gerar mais turbulência política que a CPMI do INSS, que até agora foi contornada com uma reação rápida do governo.
A avaliação interna é que, enquanto o escândalo do INSS foi mitigado com o ressarcimento das vítimas antes da abertura da investigação parlamentar, a pauta da segurança pública é muito mais sensível — e carrega um peso simbólico que atinge diretamente a imagem do governo. Em meio à escalada da violência no Rio de Janeiro e à polarização em torno das políticas de segurança, o Planalto reconhece que o tema oferece terreno fértil para o discurso oposicionista.
Por isso, ministros e líderes governistas já se articulam para acompanhar de perto cada movimento da CPI e evitar que ela se transforme em um palanque político. O diagnóstico é claro: será necessário mobilizar os principais nomes da base no Senado para disputar a narrativa pública e o comando do colegiado.
A comissão foi criada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), após a megaoperação no Rio que deixou mais de 120 mortos. A expectativa é que a CPI seja instalada na próxima terça-feira (4), com o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do pedido, como relator. O PT tenta garantir a presidência da comissão, e o nome mais cotado é o do senador Fabiano Contarato (PT-ES), delegado da Polícia Civil e aliado de confiança do governo.
Nos bastidores, o Planalto aposta em uma estratégia dupla: enquanto acompanha os trabalhos da CPI, pretende acelerar a PEC da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção, assinados por Lula na semana passada. As duas iniciativas seriam uma forma de mostrar que o governo tem respostas concretas à crise da violência, evitando que a oposição monopolize o tema.
Para o governo, o desafio é político e simbólico. A CPI do Crime Organizado pode se transformar no principal palco de disputa entre governo e oposição em 2025 — e, ao mesmo tempo, testar a capacidade do Planalto de equilibrar articulação, comunicação e controle de danos em um dos temas mais sensíveis da agenda nacional.