CPI do INSS mira empréstimos e irmão de Lula quatro meses após escândalo explodir

CPI do INSS mira empréstimos e irmão de Lula quatro meses após escândalo explodir

Quatro meses após o escândalo de descontos ilegais em aposentados ganhar as manchetes, a CPMI do INSS finalmente será instalada nesta quarta-feira (20). A comissão, impulsionada pela pressão da oposição, promete investigar não apenas os empréstimos consignados, mas também apurar a atuação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico irmão do presidente Lula e vice-presidente do Sindinapi, uma das entidades sob suspeita.

O caso, que inicialmente mobilizou a opinião pública, perdeu força após o governo anunciar reembolsos às vítimas. Mas para parlamentares de oposição, a CPMI surge como uma oportunidade estratégica para retomar espaço no debate público, especialmente diante do desgaste provocado pelo “tarifaço” aplicado pelos Estados Unidos, que ainda reverbera sobre a imagem de Bolsonaro e seus aliados.

Enquanto o governo tenta controlar a narrativa, ressaltando que os descontos irregulares teriam ocorrido na gestão anterior de Bolsonaro, parlamentares de oposição enfatizam que a fiscalização e a execução das políticas são responsabilidades do governo atual. Entre os alvos da CPI, nomes ligados a gestões passadas, como o senador Rogério Marinho (PL-RN) e o ex-ministro Onyx Lorenzoni, também serão investigados.

“Não podemos permitir que a CPI seja usada como palco de manipulação política. As fraudes existem desde 2017 e precisamos compreender como os governos anteriores lidaram — ou não — com o problema”, afirmou o senador Fabiano Contarato (PT-ES), membro do colegiado.

Por outro lado, Rogério Marinho rebateu a tentativa de imputar exclusivamente à gestão Bolsonaro a responsabilidade pelo caso. “Fiscalização e implementação de políticas públicas são deveres do governo em exercício”, declarou, destacando que a percepção de que o escândalo esfriou não diminui a gravidade da situação.

Nos bastidores, a oposição estuda estratégias que incluam investigar o irmão do presidente, buscando uma conexão direta com o Palácio do Planalto e ampliando o debate sobre ética e governança. A oposição também ressalta o contraste entre Bolsonaro, crítico histórico de sindicatos e associações, e Lula, ex-líder sindical com fortes vínculos pessoais com as entidades envolvidas.

O escândalo provocou a queda do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. A CPMI, que terá Omar Aziz (PSD-AM) como presidente e Damares Alves (Republicanos-DF) como vice, pretende iniciar o trabalho com técnicos da CGU e da Polícia Federal, colhendo informações preliminares antes de qualquer exposição pública.

O relator, deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), será responsável por elaborar o relatório final, documento que poderá recomendar indiciamentos, mudanças legislativas e outras providências. Considerado discreto, Ayres mantém bom relacionamento tanto com o governo Lula quanto com setores da oposição, o que pode conferir à CPI um caráter pragmático — mas sem perder o potencial de gerar desgaste político para o Planalto.