
Um relatório divulgado nesta terça-feira (9) pelo Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) revelou que 89% da população de Cuba vive em situação de extrema pobreza, refletindo a distância entre o discurso oficial do governo e a realidade enfrentada pela sociedade. O levantamento foi baseado em mais de 1,3 mil entrevistas em todas as províncias do país.
Segundo o estudo, a falta de fornecimento de energia elétrica foi apontada como o principal problema para 72% dos entrevistados, superando pela primeira vez a insegurança alimentar, citada por 71%. A escalada da crise econômica também aparece em outros indicadores: aumento do custo de vida (61%), baixos salários (45%) e falhas no sistema de saúde (42%).
A pesquisa mostra que sete em cada dez cubanos não conseguem fazer ao menos uma refeição por dia — situação ainda mais crítica entre idosos acima de 61 anos, onde o índice chega a oito em cada dez. O acesso a medicamentos também é limitado: apenas 3% conseguem comprar remédios em farmácias estatais, enquanto 25% afirmam não encontrar ou não ter condições de pagar pelos produtos.
O impacto da crise é profundo entre os mais vulneráveis. O relatório aponta que 82% da população considera os idosos os mais prejudicados. Atualmente, 14% das pessoas com mais de 70 anos continuam trabalhando para complementar a renda, mesmo após a aposentadoria. Entre os jovens, o desemprego é outro desafio: 81% dos que estão fora do mercado não conseguem trabalho há mais de um ano.
O estudo também mostra uma forte rejeição ao governo de Miguel Díaz-Canel: 92% dos entrevistados desaprovam sua gestão, contra apenas 5% que mantêm avaliação positiva. Entre os jovens de 18 a 30 anos, a aprovação cai para 3,39%.
A crise tem alimentado o desejo de emigrar: 78% dos cubanos declararam que pretendem deixar o país ou conhecem alguém que tem esse objetivo. Os Estados Unidos aparecem como destino preferido para 30%, enquanto 34% afirmaram que aceitariam viver “em qualquer lugar onde pudessem”. Rússia e China, apesar da proximidade política com o regime, foram citadas por apenas 2%.
Para o OCDH, os números retratam a “vida entre apagões, fome, baixos salários e serviços precários de saúde”, contrastando com a versão oficial divulgada pelo governo cubano, que frequentemente culpa fatores externos, como o embargo norte-americano, pelas dificuldades internas. Apenas 3% dos entrevistados, no entanto, apontaram o embargo como principal preocupação.