Escândalo de Corrupção Abala Milei e Testa Resistência do Governo Libertário na Argentina

Acusações envolvendo a irmã do presidente ameaçam a narrativa anticasta e podem impactar as eleições legislativas em Buenos Aires e no país.

Escândalo de Corrupção Abala Milei e Testa Resistência do Governo Libertário na Argentina
Tomas Cuesta/Getty Images
Milei

O governo do presidente Javier Milei enfrenta sua maior turbulência desde a posse, com um escândalo de corrupção envolvendo a Agência Nacional de Deficiência (Andis) e a irmã do presidente, Karina Milei, no centro das investigações. A crise chega a poucas semanas das eleições legislativas, consideradas decisivas para a continuidade do projeto político do libertário na Argentina.

Áudios divulgados em 20 de agosto apontam que Karina Milei, secretária-geral da Presidência, teria recebido propinas em contratos de compras de medicamentos pelo Estado, conforme relatado pelo ex-diretor da Andis, Diego Spagnuolo. O advogado, que já trabalhou para o presidente, indicou que 8% do valor das transações seriam destinados a pagamentos ilícitos, sendo 3% repassados à irmã do presidente. A veracidade das gravações ainda está sob análise da Justiça.

Em nota, Javier Milei classificou o caso como uma “farsa da casta política”, reforçando sua narrativa de combate à corrupção, base do seu discurso anticasta. Até o momento, Karina ainda não se pronunciou.

O escândalo ocorre em um momento delicado: nas eleições de Buenos Aires, que concentram cerca de um terço do eleitorado argentino, e nas eleições nacionais de 26 de outubro, metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado serão renovados. Com sua base legislativa fragmentada, Milei enfrenta dificuldades para aprovar projetos, após o rompimento com a vice-presidente Victoria Villarruel e a perda de apoio de partidos conservadores.

Segundo o economista Fabio Rodriguez, professor da UBA, a situação do governo se mostra crítica: “Se Milei não ampliar sua força legislativa com estas eleições, haverá um problema claro de governabilidade.”

O impacto da crise já reflete nas pesquisas: o Índice de Confiança no Governo, medido pela Universidad Torcuato di Tella, caiu 13,6% em agosto em comparação ao mês anterior, e 16,5% frente ao mesmo período de 2024. Todos os cinco indicadores avaliados – honestidade, capacidade de resolver problemas, eficiência administrativa, avaliação geral e preocupação com o interesse público – apresentaram queda significativa.

Além do desgaste político, a economia argentina continua estagnada. Embora a inflação tenha sido contida, consumo, indústria e investimentos ainda enfrentam dificuldades, e o risco-país voltou a subir, dificultando acesso a mercados internacionais.

Especialistas, como o cientista político Facundo Galván, avaliam que o escândalo ainda pode não ter efeitos imediatos nas urnas, especialmente em Buenos Aires: “A oposição não conseguiu capitalizar o descontentamento, e parte do eleitorado pode simplesmente se afastar do processo, aumentando a abstenção.”

Enquanto isso, a Justiça avança nas investigações e a oposição tenta utilizar o caso para desgastar Milei, mas enfrenta a dificuldade de se posicionar como alternativa anticorrupção crível diante da própria crise interna.

O episódio representa, acima de tudo, um teste de resistência para o libertarismo de centro democrático que Milei buscava consolidar: manter-se fora das velhas práticas da política argentina e demonstrar governabilidade diante de desafios éticos, legislativos e eleitorais.