Falta de coordenação nacional e investimentos mal feitos ampliam violência no Brasil

Falta de coordenação nacional e investimentos mal feitos ampliam violência no Brasil
Especialistas alertam que gasto estagnado, ausência de padrão e fragmentação entre União e estados enfraquecem o combate ao crime

Mesmo com a criminalidade no centro das preocupações da população, o Brasil não avançou de forma consistente nos investimentos em segurança pública, especialmente no policiamento. Levantamentos recentes mostram que, embora União, estados e municípios tenham ampliado despesas em valores nominais, o esforço financeiro segue praticamente estagnado quando comparado ao tamanho da economia.

Desde 2022, os gastos com segurança representam cerca de 1,3% do Produto Interno Bruto, índice inferior ao registrado em 2021 e abaixo do padrão observado em outros países emergentes. Na prática, o país investe menos proporcionalmente em ações ligadas ao policiamento, enquanto a sensação de insegurança cresce nas grandes cidades.

Especialistas apontam, no entanto, que o problema central não é apenas a quantidade de recursos, mas a forma como eles são distribuídos e geridos. Mais de dois terços das despesas com segurança ficam sob responsabilidade dos estados, sem um modelo nacional que organize prioridades, padronize ações ou permita comparação de resultados.

No âmbito federal, o aumento recente dos gastos foi impulsionado principalmente por despesas extraordinárias, como transferências à Defesa Civil após tragédias climáticas. Já os investimentos diretamente ligados ao policiamento cresceram muito pouco. Dados mostram que, entre 2021 e 2024, o orçamento federal destinado à segurança aumentou, mas a maior parte dessa elevação não se traduziu em reforço efetivo das forças policiais.

Nos estados, responsáveis pela atuação direta na área, a variação de gastos também foi modesta nos últimos anos. O resultado é um sistema fragmentado, em que cada ente federativo define suas próprias prioridades, categorias de despesas e até critérios de classificação criminal.

Comparações internacionais reforçam o diagnóstico. Mesmo sob metodologias mais amplas, que incluem polícia, sistema prisional e Judiciário, o Brasil investe menos que a média de países emergentes em serviços policiais. Ao mesmo tempo, gasta proporcionalmente muito mais com o Judiciário, o que revela desequilíbrios na alocação de recursos.

Para especialistas em políticas públicas, o grande desafio é a ausência de um modelo nacional de coordenação para a segurança, semelhante ao que existe na saúde com o Sistema Único de Saúde. Sem diretrizes comuns, metas claras e padronização de dados, o planejamento se torna limitado e a eficiência do gasto público fica comprometida.

O diagnóstico é claro. Enquanto a segurança pública seguir sem coordenação nacional e com investimentos mal direcionados, o país continuará gastando muito, gastando mal e colhendo poucos resultados no enfrentamento da violência.