Flávio assume protagonismo e tenta manter viva a chama bolsonarista

Com Bolsonaro inelegível e isolado, senador se torna principal articulador político do ex-presidente e entra no radar da direita para 2026.

Flávio assume protagonismo e tenta manter viva a chama bolsonarista

Nos bastidores de Brasília, um novo protagonista começa a se destacar no núcleo bolsonarista. Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o primogênito do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem assumido discretamente a linha de frente das articulações políticas do pai e adotado um tom mais enfático em defesa da família e contra o Supremo Tribunal Federal (STF). O movimento reacende especulações sobre seu futuro e o papel que poderá desempenhar nas eleições de 2026.

A ascensão do senador ocorre em um momento delicado para o clã. Com Bolsonaro inelegível até 2030 e condenado a 27 anos de prisão no caso da trama golpista, as discussões sobre quem herdará seu capital político se intensificam. Interlocutores próximos afirmam que o ex-presidente demonstra resistência em transferir essa liderança a figuras fora da família — e, entre os filhos, Flávio é visto como o mais viável politicamente.

Enquanto isso, outros nomes do campo bolsonarista tentam se posicionar. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ainda é apontado como o favorito do ex-presidente, embora tenha reforçado publicamente o desejo de disputar a reeleição em 2026. Já Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que mantém residência nos Estados Unidos, tem adotado um discurso mais radical, o que tem causado desconforto dentro da própria direita.

Nesse cenário, Flávio tem atuado como ponte entre as diferentes alas bolsonaristas. Foi ele quem Bolsonaro enviou para conversar com o irmão nos EUA e tentar “alinhar discursos”. Também tem participado de reuniões, eventos partidários e articulações com líderes do Congresso em nome do pai. O papel, segundo aliados, é de “porta-voz informal”, mas com cada vez mais peso político.

Em suas recentes manifestações públicas, o senador tem oscilado entre moderação e combatividade. Nos últimos meses, passou de defensor de uma “anistia ampla, inclusive a ministros do STF”, para a defesa aberta do impeachment de Alexandre de Moraes, acompanhando o tom mais duro da base bolsonarista. Em paralelo, intensificou as críticas ao governo Lula (PT), com foco em temas como segurança pública e economia.

A atuação de Flávio também tem um componente simbólico. Ele vem se tornando o rosto mais visível do bolsonarismo institucional, enquanto o pai, em prisão domiciliar, mantém presença limitada e evita declarações diretas sobre a sucessão. O senador tem representado Bolsonaro em eventos — como a posse do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Wagner Rosário, ex-ministro da CGU, onde recebeu afagos públicos de Tarcísio e aliados do ex-presidente.

O gesto foi interpretado como um sinal de unidade, mas também de disputa velada por espaço. Nos bastidores, parlamentares avaliam que a direita ainda não encontrou consenso sobre quem será o candidato que herdará o legado político de Bolsonaro.

Entre os nomes cotados, Michelle Bolsonaro aparece como possibilidade para o Senado, e Flávio mantém o discurso de que buscará a reeleição. Ainda assim, ambos sabem que o espaço deixado pelo ex-presidente e pelo bolsonarismo enquanto fenômeno eleitoral dificilmente ficará vago por muito tempo.

Mais do que uma disputa familiar, o movimento indica uma reorganização estratégica da direita, que tenta sobreviver politicamente ao desgaste de seu principal líder. Para aliados, Flávio Bolsonaro tenta fazer o que o pai não pode: construir pontes políticas e manter viva uma base ideológica em fase de reacomodação.

Enquanto o ex-presidente segue afastado da arena pública, o filho mais velho assume o leme de um barco que, mesmo sem rumo claro, ainda conta com milhões de tripulantes dispostos a seguir navegando sob a mesma bandeira.