Juvenal Araújo: “Empreendedorismo negro: a força que move a economia brasileira”

O artigo de Juvenal Araújo destaca como o empreendedorismo negro se tornou uma força vital da economia brasileira, nascida muitas vezes da necessidade, mas transformada em movimento de inovação, geração de renda e impacto social. Com 14 milhões de empreendedores negros movimentando R$ 1,7 trilhão por ano, esse protagonismo cresce mesmo diante de barreiras estruturais como falta de crédito e desigualdades históricas. Exemplos como a Feira Preta e iniciativas lideradas por mulheres negras mostram a potência criativa desse grupo, que impulsiona negócios nas periferias, na cultura, na tecnologia e na economia digital. Para o autor, fortalecer o empreendedorismo negro por meio de políticas públicas, acesso ao crédito e reconhecimento social é essencial para um Brasil mais diverso, próspero e justo, sobretudo no simbolismo do 20 de novembro, data que celebra resistência, autonomia e futuro.

Juvenal Araújo: “Empreendedorismo negro: a força que move a economia brasileira”

O 20 de novembro destaca o papel crescente dos empreendedores negros na geração de renda, inovação e transformação social no Brasil.

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma lembrança histórica. É também um retrato vivo da potência e da criatividade da população negra brasileira, que tem encontrado no empreendedorismo uma forma de resistência, afirmação e conquista de autonomia econômica.

Em um país marcado por desigualdades históricas, empreender sempre foi, para muitos negros e negras, mais do que uma opção foi uma necessidade. A falta de acesso ao mercado formal de trabalho, à educação e ao crédito empurrou milhões de brasileiros para o caminho do próprio negócio. Mas o que começou como alternativa se tornou movimento. Hoje, o empreendedorismo negro é um dos pilares da economia criativa, movimentando bilhões e criando oportunidades em áreas que vão da moda à tecnologia.

Segundo dados do SEBRAE e do Instituto Locomotiva, cerca de 14 milhões de empreendedores negros estão à frente de empresas no Brasil — o equivalente a mais da metade dos negócios liderados por pessoas autodeclaradas pretas ou pardas. Juntos, eles movimentam R$ 1,7 trilhão por ano, contribuindo para o crescimento econômico e para a geração de emprego e renda nas periferias e comunidades.

Mas o sucesso vem acompanhado de desafios. Apenas 27% desses empreendedores têm acesso a crédito bancário. A maioria inicia o negócio com recursos próprios e enfrenta barreiras estruturais que limitam o crescimento — desde a dificuldade de acesso a financiamentos até a ausência de redes de apoio e mentoria. Mesmo assim, o que se vê é uma revolução silenciosa, movida pela criatividade e pela capacidade de transformar dificuldades em inovação.

Exemplos inspiradores não faltam. Adriana Barbosa, idealizadora da Feira Preta, construiu o maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina. Sua iniciativa abriu espaço para centenas de marcas que valorizam a estética, o conhecimento e o consumo afro-brasileiro. Outro exemplo é Jonathan Ferr, pianista e empresário carioca que uniu música, tecnologia e ancestralidade para criar um novo gênero cultural e empresarial no país.

Nas periferias, o movimento é ainda mais vibrante. Jovens têm criado marcas de roupas, estúdios de beleza, coletivos artísticos e startups sociais, usando a internet como ferramenta de expansão. A digitalização abriu portas que antes pareciam inalcançáveis. Plataformas como o Instagram e o TikTok tornaram-se vitrines para produtos e serviços, conectando esses empreendedores diretamente com consumidores de todo o Brasil.

As mulheres negras são um destaque à parte. De acordo com o PNAD/IBGE (2023), elas são o grupo que mais empreende no país — muitas vezes como forma de sustentar suas famílias. São chefes de negócios, líderes comunitárias e referências de inovação e gestão. O sucesso de empresárias como Nina Silva, fundadora do Black Money Movement, mostra que o protagonismo negro é também uma estratégia de fortalecimento coletivo.

A ascensão desses empreendedores revela uma verdade essencial: a economia brasileira só será forte se for diversa. Quando um pequeno negócio negro cresce, toda uma comunidade cresce junto. Cada empreendimento que dá certo é um símbolo de independência e um passo rumo à equidade econômica.

Por isso, o 20 de novembro não deve ser apenas lembrado, mas vivido como um marco de estímulo ao empreendedorismo negro. Incentivar esse movimento é fortalecer a economia nacional. É dar visibilidade a talentos que transformam ideias em soluções, cultura em produto, e ancestralidade em futuro.

O Brasil tem, na força empreendedora da população negra, uma das maiores oportunidades de crescimento sustentável e inclusão social. A igualdade de oportunidades, o acesso ao crédito e o reconhecimento do valor desses empreendedores são caminhos que precisam ser fortalecidos por políticas públicas, investimento privado e uma mudança de mentalidade coletiva.

O 20 de novembro é, portanto, um convite para que o país reconheça o empreendedorismo negro como uma das expressões mais poderosas da liberdade e da capacidade de transformação do nosso povo. Celebrar essa data é celebrar quem, com coragem e talento, transforma obstáculos em progresso e constrói um Brasil mais justo e próspero.