
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem movido suas peças com cautela para garantir a nomeação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). A escolha, considerada praticamente certa dentro do Planalto, vem sendo construída nos bastidores com gestos políticos calculados — especialmente direcionados a Guilherme Boulos (PSOL) e ao senador Davi Alcolumbre (União-AP).
Na última segunda-feira (20), Lula oficializou a nomeação de Boulos como ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. A decisão, aguardada há meses, foi interpretada por auxiliares do governo como um movimento estratégico: o petista busca reduzir a pressão de grupos progressistas e movimentos sociais que vinham exigindo a indicação de uma mulher negra ao Supremo.
Embora Boulos não represente diretamente essa pauta identitária, Lula aposta em seu histórico de proximidade com movimentos sociais como uma “compensação simbólica” à ausência de diversidade racial na futura nomeação para a Corte.
Gestos a Alcolumbre e a política do equilíbrio
Outra frente de articulação envolve o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, figura central na sabatina e aprovação de Messias. Lula tem buscado fortalecer essa relação com gestos concretos.
Na mesma segunda-feira (20), o Ibama liberou uma licença para a Petrobras perfurar um poço exploratório em águas profundas na região da Foz do Amazonas — pauta prioritária de Alcolumbre, cujo reduto eleitoral é o Amapá.
Além disso, o senador foi convidado para um jantar reservado no Palácio da Alvorada, onde Lula reafirmou pessoalmente sua intenção de indicar Messias ao STF. Fontes próximas ao Planalto afirmam que Alcolumbre recebeu bem o gesto e sinalizou apoio.
Um aceno também a Pacheco
Mesmo com o cenário favorável, Lula decidiu adiar o anúncio oficial da indicação para depois de sua viagem à Ásia, na próxima semana. O motivo: o presidente quer aproveitar o momento para fazer também um gesto político ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Na segunda-feira (27), o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), se filiará ao PSD — movimento que tende a reduzir o poder de Pacheco dentro do partido. Com isso, Lula busca reequilibrar o jogo mineiro, abrindo espaço para uma aproximação futura.
O presidente tem dito a aliados que deseja ver Pacheco como candidato ao governo de Minas em 2026, servindo de palanque estadual para sua eventual reeleição ao Planalto. Para isso, trabalha nos bastidores para garantir ao senador uma nova legenda. O PSB já apresentou convite, mas a preferência de Lula recai sobre o MDB, que conta com um fundo eleitoral mais robusto e maior capilaridade política.
Cálculo e pragmatismo
Os recentes movimentos de Lula mostram o estilo que o consagrou como articulador político: conciliar interesses divergentes, distribuir gestos e assegurar apoio antes de tomar decisões públicas. A nomeação de Boulos, as concessões a Alcolumbre e as negociações com Pacheco fazem parte de um mesmo tabuleiro — e têm um objetivo comum: garantir que a próxima vaga do Supremo seja ocupada por um nome de confiança do presidente.
Com isso, Lula reforça não apenas sua influência sobre o Judiciário, mas também seu controle sobre as alianças que sustentam o governo no Congresso.