Lula critica operação no Rio e pede investigação da PF sobre “matança”

Presidente classifica ação nas comunidades do Alemão e da Penha como “desastrosa” e cobra apuração independente das mortes

Lula critica operação no Rio e pede investigação da PF sobre “matança”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta terça-feira (4) a participação da Polícia Federal nas investigações sobre a megaoperação no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos entre eles quatro policiais nas comunidades do Alemão e da Penha. Durante entrevista a jornalistas estrangeiros em Belém (PA), onde cumpre agenda prévia à COP30, Lula classificou o episódio como uma “matança” e cobrou uma apuração rigorosa das circunstâncias das mortes.

“Estamos tentando ver se é possível que os legistas da Polícia Federal participem do processo de investigação, porque há muitas versões e pouca transparência. As pessoas foram enterradas sem perícia de outro órgão, e isso não é aceitável”, afirmou o presidente.

Lula disse que, segundo informações apresentadas ao governo, a decisão judicial autorizava apenas mandados de prisão e busca, não uma operação de confronto. “A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não de matança. E houve matança”, afirmou, acrescentando que, embora o resultado tenha sido considerado “um sucesso operacional” por parte das forças de segurança do Rio, “do ponto de vista da atuação do Estado, foi desastroso”.

O presidente destacou ainda que a PF atua em conjunto com o Ministério da Justiça e o Ministério Público Federal (MPF) para investigar os fatos. “Precisamos entender em que condições tudo aconteceu, se a versão apresentada pela polícia corresponde à realidade ou se houve excessos graves”, declarou.

Na semana passada, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, já havia determinado o envio de 20 peritos criminais federais ao Rio de Janeiro. Os especialistas vão reforçar os trabalhos de perícia em áreas de conflito, analisando balística, genética forense, medicina legal e identificação de corpos.

Lula, que tem evitado confrontos diretos com governadores sobre temas de segurança pública, endureceu o tom após a repercussão internacional do caso. Organizações de direitos humanos e entidades da sociedade civil têm cobrado transparência e responsabilização.

O presidente está em Belém desde o fim de semana e deve participar, nos próximos dias, da Cúpula dos Líderes que antecede a COP30. O evento reunirá chefes de Estado e de governo para debater compromissos globais sobre clima, desenvolvimento sustentável e transição energética.

Enquanto o mundo discute o futuro do planeta, o Brasil enfrenta um debate urgente sobre o presente da segurança pública — entre o dever de combater o crime e o limite da força do Estado.