
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve usar sua participação na cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, neste fim de semana na Colômbia, para expressar solidariedade regional à Venezuela diante das recentes ameaças militares dos Estados Unidos ao regime de Nicolás Maduro. A informação foi confirmada pelo chanceler Mauro Vieira nesta quarta-feira (5), em entrevista coletiva em Belém (PA), onde o governo brasileiro cumpre agenda prévia à COP30.
Segundo o ministro, a posição do Brasil será de defesa da autonomia latino-americana e da manutenção da região como um território de paz e cooperação. “É um apoio, é uma solidariedade regional à Venezuela, tendo em vista que o presidente repetidamente já afirmou — e é a posição da nossa política externa que a América Latina é uma região de paz”, afirmou Vieira.
Lula viajará no sábado (8) para participar da reunião da Celac com a União Europeia, marcada para os dias 9 e 10 de novembro em Santa Marta, cidade colombiana que sediará o encontro de chefes de Estado e governo.
O tema ganhou força após o presidente Donald Trump intensificar o tom contra Caracas, ameaçando o governo venezuelano e reforçando a presença militar americana no Caribe sob o argumento de combater o narcotráfico. Washington deslocou embarcações e aviões de guerra para a região, em uma operação que, segundo a Casa Branca, visa “impedir o fluxo de drogas para os Estados Unidos”.
Maduro, por sua vez, acusa os EUA de intervenção política e militar, afirmando que os ataques a embarcações na região são “atos provocativos” com o objetivo de desestabilizar o regime bolivariano. O governo venezuelano também denunciou a suposta atuação da CIA em operações de espionagem no país e afirmou que Trump está “fabricando uma nova guerra na América Latina”.
Em entrevista a jornalistas estrangeiros na terça-feira (4), Lula antecipou parte do discurso que pretende levar à cúpula: “A América Latina é uma zona de paz. Aqui não proliferaram armas nucleares. No caso do Brasil, isso é constitucional, e eu tenho orgulho de ter votado pela proibição de armas atômicas no país”, afirmou o presidente, ao lembrar seu papel como constituinte em 1988.
A fala reforça a linha tradicional da diplomacia brasileira, que defende o diálogo e o multilateralismo como ferramentas para evitar crises militares na região. O Itamaraty tem buscado se posicionar como mediador político em temas sensíveis da América do Sul — entre eles, o impasse político venezuelano e a tensão recente na fronteira entre Guiana e Venezuela, pelo território de Essequibo.
Com o retorno do protagonismo diplomático, Lula tenta reposicionar o Brasil como voz de equilíbrio na América Latina em um cenário marcado por tensões entre Washington e Caracas.