Maioria dos brasileiros rejeita polarização e adota postura pragmática, aponta pesquisa

Levantamento da More in Common e Quaest mostra que 54% da população não se identificam nem com a direita nem com a esquerda, enquanto apenas 6% mantêm visão radical e alta desconfiança nas instituições

Maioria dos brasileiros rejeita polarização e adota postura pragmática, aponta pesquisa

Em meio ao barulho dos extremos, o Brasil real parece falar mais baixo mas com outra lógica. Um estudo do think tank More in Common, em parceria com o Instituto Quaest, revelou que mais da metade dos brasileiros (54%) está fora da polarização política e adota uma postura pragmática e não ideológica sobre os principais temas nacionais.

A pesquisa, feita com 10 mil entrevistados em todo o país, classificou a sociedade em seis grupos distintos, divididos entre progressistas, conservadores e um grande bloco intermediário chamado pelos pesquisadores de “maioria invisível”, formada por cidadãos que não se consideram de direita nem de esquerda.

Esse grupo majoritário, que reúne tanto “desengajados” quanto “cautelosos”, representa a fatia mais numerosa da população, mas também a menos ouvida. São brasileiros que preferem se afastar do debate político polarizado, enxergam a realidade de forma prática e se preocupam mais com o cotidiano do que com as disputas ideológicas.

“Os segmentos minoritários são muito engajados e vocais, o que dá a impressão de que o país inteiro está dividido. Mas a maioria prefere não entrar na briga”, explica o relatório.

No outro extremo, a pesquisa identifica uma minoria ruidosa: os “patriotas indignados”, grupo conservador radical que corresponde a apenas 6% da população, mas com forte desconfiança nas instituições — 71% não confiam no Supremo Tribunal Federal, 64% na Justiça Eleitoral e 62% na imprensa. Esse segmento, altamente mobilizado, é formado em grande parte por evangélicos (40%) e eleitores que se declaram bolsonaristas (70%), com engajamento intenso em WhatsApp e YouTube.

O restante da direita é composto pelos “conservadores tradicionais”, que representam 21% dos brasileiros e mostram desconfiança mais moderada, embora compartilhem parte da percepção crítica dos “patriotas”. Juntos, formam cerca de um quarto da população que observa o sistema político com ceticismo.

Do lado progressista, 19% se identificam com pautas de esquerda, sendo 5% “militantes” — mais escolarizados e concentrados nos grandes centros — e 14% da chamada esquerda tradicional, que tende a defender causas sociais e políticas públicas distributivas.

Em temas polêmicos, as diferenças são marcantes. Enquanto apenas 30% dos militantes de esquerda concordam com a frase “menores de idade que cometem crimes devem ir para a cadeia”, 85% da população total apoia a medida.

O levantamento sugere que, embora o debate público seja dominado pelos polos ideológicos, o Brasil político é mais complexo e menos dividido do que parece. O país vive um cenário em que os extremos ocupam o microfone, mas a maioria silenciosa mais pobre, negra e com menor escolaridade segue distante das trincheiras partidárias, observando com pragmatismo e desconfiança.

“O Brasil não é um país rachado ao meio. É um país cansado dos extremos e à procura de equilíbrio.”