
Um levantamento do Diagnóstico de Infraestrutura Escolar de 2024, obtido via Lei de Acesso à Informação, revelou uma realidade preocupante na rede estadual de ensino de Minas Gerais: 557 escolas não têm acesso a água tratada e 517 despejam esgoto em fossas rudimentares, sem qualquer tipo de tratamento adequado.
Ao todo, o estado possui 3.954 escolas estaduais. Isso significa que 13% não tratam seus dejetos e 14% não oferecem água potável desinfetada aos alunos. As estruturas mais comuns nessas instituições são fossas negras, absorventes ou secas — todas consideradas inseguras pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab).
Impacto no dia a dia escolar
Na Escola Estadual Domingos Barbosa Braér, em Miralta, distrito de Montes Claros, o esgoto vai direto para fossas negras. “É desagradável, gera mau cheiro, junta moscas. Às vezes a criança está brincando e passa naquela água”, relatou a funcionária da escola Aline Barbosa Amaral.
Situação semelhante ocorre na Escola Estadual João Miguel Teixeira, também em Montes Claros, onde a água consumida vem de poços artesianos sem garantia de qualidade. “Gera muita preocupação”, resumiu a funcionária Dinesia Aparecida Ferreira dos Santos.
Além disso, comunidades locais relatam que a mesma vulnerabilidade se repete nas residências. “Quando você ferve a água, dá para ver areia e cascas pretas, como se fosse sal. Convivemos com o mau cheiro das fossas e a insegurança de beber a água”, disse Darlene Silva Teixeira, presidente da associação de moradores.
Desafio nas áreas rurais
Segundo especialistas, a precariedade é mais comum em municípios com grande extensão territorial e baixa densidade populacional, o que dificulta a instalação de redes de saneamento. Januária, no Norte de Minas, lidera o ranking de escolas sem esgoto tratado. O prefeito, Maurício Almeida, prometeu soluções até o fim de 2026, mas hoje apenas 16,2% da população local tem acesso a saneamento.
O coordenador do programa Universaliza Minas, da Copasa, João Paulo Lopes Rigotto, lembra que em áreas rurais as casas ficam distantes entre si, o que encarece as obras. Já o assessor da Associação Mineira de Municípios (AMM), Licínio Xavier, aponta que muitos municípios ainda coletam esgoto sem tratar, lançando-o diretamente em cursos d’água.
Risco à saúde e à aprendizagem
Especialistas alertam que a falta de saneamento adequado aumenta a exposição de estudantes a doenças de veiculação hídrica, comprometendo não apenas a saúde das comunidades, mas também a frequência escolar e a qualidade do aprendizado.
Apesar das dificuldades estruturais, entidades ligadas à educação e ao meio ambiente reforçam que garantir água potável e esgoto tratado nas escolas deve ser prioridade, já que são direitos básicos assegurados pela Constituição.