
A um ano das eleições de 2026, o cenário é nebuloso e indefinido. Pesquisas retratam uma sociedade dividida ao meio
No século XX, tínhamos convicções e princípios sólidos – seja qual fosse a matriz de pensamento de nossa preferência – sobre o horizonte estratégico a perseguir. Não ficou pedra sobre pedra. “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Socialistas viram sua utopia esfarelar junto com a poeira do Muro de Berlim. Liberais depararam-se com a falta de Estado, gerando, em 2008, a maior crise global do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929. Socialdemocratas viram o Welfare State encontrar seus limites fiscais.
Restou, a nos alentar, a ideia central da democracia como valor universal. A democracia, com seus traços falhos e defeitos genéticos herdados da matriz humana, ainda assim, com seus freios e contrapesos, com as suas sínteses e consensos progressivos originados do livre jogo político e social, iria construir o mundo melhor possível.
No entanto, a partir da segunda década do século XXI, emergiu o que alguns chamam de “populismo autoritário iliberal”. Figuras um tanto distantes do perfil de líderes típicos da democracia liberal clássica assumem o poder. A cena começa a ser dominada por personalidades exóticas e fora dos paradigmas tradicionais, como Trump, Putin, Orbán, Lukashenko, Netanyahu, Milei. Para quem imaginou um século marcado pela “pax democrática”, em que teríamos a combinação de democracia política e economia de mercado calibrada por uma boa dose de políticas sociais, nada mais frustrante.
Iniciei a leitura de “A Hora dos Predadores”, do ítalo-suíço Giuliano da Empoli, autor do clássico “Os Engenheiros do Caos”. Em seu novo livro nos alerta sobre as fragilidades da democracia contemporânea; a inércia de líderes democráticos, sobretudo europeus; a hegemonia crescente dos oligarcas das giants big techs e de autocratas carismáticos; a naturalização das guerras e a manipulação como ferramenta da conquista do poder a qualquer custo. A inteligência artificial, os ciberataques, o manuseio de dados e a guerra de narrativas, alimentando o autoritarismo e minando a democracia, o diálogo, a cooperação, a diplomacia.