
A direita brasileira vive um novo capítulo de tensão interna. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) acusou publicamente o colega Nikolas Ferreira (PL-MG) de tentar se “descolar” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e liderar uma dissidência política dentro do campo conservador. A acusação foi feita nas redes sociais, em uma publicação compartilhada por Eduardo nesta terça-feira (5), reacendendo os atritos entre as duas principais figuras jovens da base bolsonarista.
No texto reproduzido por Eduardo, Nikolas é apontado como o líder de um grupo de parlamentares que tentam construir uma nova direita “independente de Bolsonaro”, mantendo o eleitorado conservador, mas se afastando do núcleo ideológico e familiar do ex-presidente. “Eles querem continuar sendo eleitos pelos bolsonaristas, mas não querem mais prestar contas ao Bolsonaro”, diz o conteúdo divulgado pelo filho 03.
A relação entre os dois já vinha se desgastando há meses. Em julho, Eduardo declarou ser “triste ver a que ponto Nikolas chegou”, em referência a declarações do deputado mineiro que sugeriam maior autonomia em relação ao bolsonarismo. O episódio se somou às menções feitas pela Polícia Federal em relatório recente, que revelou trocas de mensagens entre Eduardo e o pai criticando o comportamento de Nikolas nas redes sociais.
Segundo o documento, as conversas ocorreram em 17 de julho, quando Eduardo enviou a Jair Bolsonaro links de postagens que cobravam do deputado mineiro maior engajamento em manifestações e eventos em apoio ao ex-presidente. “Divulgar a manifestação na Paulista, zero. Divulgar palestra em Curitiba, vale até repostar o Silvio Grimaldo. Jair Bolsonaro está em BH, já já veremos na prática a arte de ‘colar no Bozo pra depois descolar do Bozo’”, dizia uma das mensagens compartilhadas.
A crescente distância entre Nikolas e o clã Bolsonaro reflete uma disputa por espaço e narrativa dentro da direita. Enquanto o mineiro busca se consolidar como rosto de uma nova geração conservadora, com discurso mais liberal e foco em pautas morais, o entorno de Bolsonaro tenta preservar a unidade e a lealdade em torno da figura do ex-presidente, ainda o principal líder do campo.
Nos bastidores, aliados do PL admitem que a tensão revela mais que um conflito pessoal — é também um sinal de transição política no eleitorado de direita, cada vez mais dividido entre o bolsonarismo raiz e uma nova direita que tenta sobreviver sem depender do ex-presidente.
A disputa entre Nikolas e Eduardo expõe a batalha pela herança do bolsonarismo — e o desafio de quem tenta renovar a direita sem romper com seu maior símbolo.