Ryco Daniel: “O grande exemplo pela renovação política”

No artigo “O grande exemplo pela renovação política”, Ryco Daniel destaca que a aposentadoria de Nancy Pelosi simboliza um marco de responsabilidade e renovação geracional na política americana. Ao deixar a vida pública após décadas de protagonismo, Pelosi abre espaço para novas lideranças democratas, reafirmando o valor da transição consciente e democrática em um momento de tensão entre o velho establishment e a nova geração. Ryco elogia a trajetória combativa da ex-presidente da Câmara dos EUA, sobretudo sua firme atuação contra Donald Trump e em defesa da democracia, e traça um paralelo com o cenário brasileiro, defendendo que partidos de centro também precisam abrir espaço para novas vozes e abandonar o personalismo político como condição essencial para reconstruir a confiança pública e enfrentar os extremos.

Ryco Daniel: “O grande exemplo pela renovação política”

Nancy Pelosi anunciou sua aposentadoria da vida pública, abrindo um poderoso precedente no Partido Democrata americano. Cercado por jovens lideranças de grande potencial, o partido tem vivido, nos últimos anos, uma tensão constante entre a nova geração e o velho establishment herdado da era Obama. A decisão de Pelosi reflete a crescente pressão interna por renovação política verdadeira, a mesma que se manifestou quando setores do partido forçaram Joe Biden, já com idade avançada, a retirar sua candidatura em favor de Kamala Harris de maneira tardia.

Figura de espírito público exemplar, Pelosi já havia se afastado da liderança do Congresso há três anos. Sua decisão de não disputar a reeleição é um gesto simbólico e concreto de abertura às novas gerações. Foi a mais poderosa Speaker (Presidente da Câmara dos Representantes) da história americana, uma figura central que apoiou as reformas recentes nos distritos eleitorais da Califórnia, mudanças aprovadas coletivamente pela legislatura estadual por meio da Proposition 50, que podem render até cinco novas cadeiras aos democratas nas próximas eleições, importantes para recuperarem sua maioria no Capitólio.

Não se pode esquecer de sua postura combativa diante de Donald Trump. Pelosi foi decisiva na criação do comitê de investigação do Congresso sobre as tentativas de tomada do Capitólio, um marco institucional mesmo que sem a condenação formal do ex-presidente. Sua atuação foi firme, lúcida e marcada pela defesa intransigente da democracia americana.

Mas por que se aposentar agora? Por que deixar o embate constante contra Trump e seu discurso de medo e desinformação? Pelosi pertence a uma geração que aprendeu o significado da resistência em um ambiente político dominado por homens. Como mulher, entende mais do que ninguém o que é ter a voz suprimida em meio a lideranças poderosas, bem como sabe que uma voz silenciada não é capaz de gerar mudanças.

As fileiras democratas anseiam por renovação. Sua saída é um gesto de responsabilidade e esperança, é um chamado para que as novas lideranças assumam seu papel e conduzam o partido a uma nova estratégia frente a Trump e às próximas eleições. Sua aposentadoria é, antes de tudo, uma mensagem para a militância que não desistam, um claro “chegou a hora de vocês”.

Os Estados Unidos, mais uma vez, servem como microcosmo para compreender a política nua e crua, com reflexos diretos na realidade brasileira. Para os partidos de discurso moderado, que buscam se distanciar do radicalismo do PT e do bolsonarismo, talvez esteja aí a chave para a pacificação verdadeira. Novas lideranças precisam ter espaço para florescer, enquanto as antigas, já desgastadas, devem saber se retirar com a responsabilidade que seus legados exigem.

Resta saber: o apetite político pelo poder será maior que a responsabilidade com a democracia?

*Ryco é presidente da juventude do PSDB no Ceará, tesoureiro nacional da juventude do PSDB e tesoureiro do PSDB de Fortaleza/CE.