
Em uma fala marcada por comparações internacionais e críticas ao rumo da política econômica brasileira, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes afirmou, em evento realizado em São Paulo, que o país poderia ter dado um salto histórico caso tivesse mantido um mesmo projeto por dois mandatos. Para Guedes, esse seria o tempo suficiente para pavimentar um ciclo sólido de prosperidade — algo que, segundo ele, nações como Alemanha e China demonstraram ser possível com disciplina e estratégia de longo prazo.
O economista buscou contextualizar seu argumento recorrendo ao pós-guerra alemão. “O alemão precisava de quatro ou cinco meses de salário para comprar um par de sapatos”, lembrou, para ilustrar o nível de escassez enfrentado pela população naquele período. Em sua leitura, a rápida reconstrução do país, que em pouco mais de uma década tornou-se uma das economias mais fortes do planeta, evidencia que reformas consistentes podem transformar realidades aparentemente irreversíveis.
Guedes também mencionou a ascensão chinesa como exemplo de um projeto nacional bem sucedido. Para ele, a reorganização econômica da China nos últimos 30 a 40 anos mostra que mudanças estruturais, quando conduzidas com continuidade, produzem resultados expressivos mesmo em sociedades complexas e desiguais.
Ao comparar esses cenários com o Brasil, o ex-ministro afirmou que o país “iria embora” — expressão usada para indicar forte aceleração do desenvolvimento caso tivesse mantido uma agenda de reformas por dois mandatos consecutivos. Ele voltou a defender que o foco deveria estar em crescimento, produtividade e modernização, e não na expansão de programas sociais que, em sua visão, elevam gastos, pressionam a inflação e produzem juros mais altos, gerando um ciclo que compromete o avanço econômico.
Para Guedes, o desafio brasileiro está menos na ausência de potencial e mais na falta de continuidade e consistência das políticas públicas. Sua fala, embora carregada de otimismo sobre as capacidades do país, reforça as disputas atuais sobre qual modelo de desenvolvimento o Brasil deve adotar e como equilibrar proteção social e estabilidade macroeconômica.