PF aponta propina a ex-ministro do Trabalho de Bolsonaro em esquema de desvios no INSS

Investigação identifica pagamentos da Conafer a José Carlos Oliveira e descreve atuação estratégica do ex-ministro na expansão das fraudes contra aposentados

PF aponta propina a ex-ministro do Trabalho de Bolsonaro em esquema de desvios no INSS
Geraldo Magela/Agência Senado

A Polícia Federal identificou indícios de que José Carlos Oliveira, ex-ministro do Trabalho e Previdência do governo Jair Bolsonaro, recebeu propina da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), entidade apontada como peça central no esquema de descontos irregulares em benefícios do INSS. Segundo a PF, Oliveira — que recentemente alterou seu nome para Ahmed Mohamad Oliveira — teria atuado de forma direta para favorecer a organização criminosa enquanto ocupava cargos de comando na estrutura previdenciária.

As apurações revelam que o ex-ministro, antes presidente do INSS, foi determinante para a manutenção e ampliação do esquema de fraudes que prejudicou aposentados e pensionistas. A PF afirma que, com acesso privilegiado ao funcionamento do sistema, ele viabilizou a continuidade dos descontos indevidos e ajudou a blindar o esquema dentro da máquina pública.

As suspeitas se tornaram mais robustas com a apreensão de diálogos de WhatsApp entre Oliveira e Cícero Marcelino, operador financeiro da Conafer, preso na operação desta quinta-feira. As mensagens incluem agradecimentos por pagamentos, reforçando a hipótese de repasses mensais ao então ministro. Documentos analisados pelos investigadores mostram ainda planilhas que vinculam depósitos a períodos em que Oliveira já integrava o primeiro escalão do governo federal.

A investigação detalha que a Conafer recebeu autorização para operar consignações no INSS e, a partir daí, teria cobrado valores superfaturados e descontado serviços não contratados pelos beneficiários. Parte do dinheiro desviado era repassado a dirigentes, intermediários e agentes públicos — entre eles, segundo a PF, o ex-ministro.

A defesa de José Carlos Oliveira não se manifestou até o momento, assim como a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. O espaço segue aberto.

O caso amplia o escrutínio sobre práticas de entidades conveniadas ao INSS e reforça a necessidade de mecanismos mais rígidos de controle sobre consignações, historicamente alvo de fraudes que atingem diretamente populações vulneráveis. A PF segue analisando celulares, documentos e quebras de sigilo para identificar a dimensão completa da rede de favorecimento e o eventual envolvimento de outros agentes públicos.

A operação marca mais um capítulo da pressão institucional para responsabilizar responsáveis por práticas ilícitas na gestão previdenciária, um tema sensível que afeta milhões de brasileiros e exige vigilância permanente.