Ao negar palanque a Flávio Bolsonaro, Mateus Simões dificulta aliança com o PL em Minas

Declaração do vice-governador é interpretada como ruptura pelo bolsonarismo e ameaça acordo que previa apoio do PL à sua candidatura em 2026

Ao negar palanque a Flávio Bolsonaro, Mateus Simões dificulta aliança com o PL em Minas

O vice-governador de Minas Gerais e pré-candidato ao governo do Estado, Mateus Simões (PSD), afirmou publicamente que não pretende apoiar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em uma eventual disputa presidencial. Embora tenha evitado críticas diretas ao filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Simões deixou claro que sua atuação eleitoral estará concentrada exclusivamente no projeto político liderado pelo governador Romeu Zema (Novo).

A declaração representa um ponto de inflexão na relação com o PL em Minas Gerais. O partido tem em Flávio Bolsonaro seu principal nome para dar continuidade ao projeto presidencial bolsonarista e esperava contar com palanques estaduais alinhados, especialmente em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país. Ao descartar esse apoio, Simões cria um constrangimento direto para a estratégia nacional da legenda.

Nos bastidores, a avaliação predominante é de que a postura do vice-governador pode ser interpretada como quebra de confiança, ou mesmo como uma traição política, por setores do bolsonarismo. O gesto também coloca em risco um acordo que vinha sendo costurado no campo conservador mineiro. Esse arranjo previa o apoio do presidente do PL em Minas, deputado federal Domingos Sávio, à candidatura de Simões ao governo do Estado. Em contrapartida, Domingos trabalhava para viabilizar seu próprio nome ao Senado na chapa encabeçada pelo vice-governador.

A recusa em se alinhar a Flávio Bolsonaro fragiliza esse entendimento e gera incertezas sobre a disposição do PL em sustentar a candidatura de Simões em 2026. O episódio também expõe um dilema político para o deputado federal Nikolas Ferreira, principal articulador da aproximação entre o bolsonarismo mineiro e o projeto político de Zema.

Nikolas sempre adotou um discurso duro contra o PSD, partido de Simões, e chegou a afirmar publicamente em 2024 que a sigla era “pior que o PT”. Apesar disso, passou a atuar na tentativa de unificar a direita em torno da pré-candidatura do vice-governador. A negativa de apoio ao herdeiro político de Jair Bolsonaro amplia o desgaste dessa construção e impõe a Nikolas o desafio de justificar à base bolsonarista uma aliança que perde seu principal elo no plano nacional.

O possível afastamento do PL em relação a Simões também pode fortalecer a candidatura do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), que lidera as pesquisas e busca consolidar seu nome como alternativa da centro-direita em Minas. Colega de Flávio Bolsonaro no Senado, Cleitinho não teria resistência em apoiar uma eventual candidatura presidencial do senador do PL. Dentro da legenda bolsonarista, o apoio a Cleitinho é impulsionado pelo deputado estadual Cristiano Caporezzo, que disputa com Domingos Sávio a indicação do partido para a vaga de candidato ao Senado.

Além do impacto no campo da direita, Simões comentou o cenário eleitoral estadual e demonstrou confiança ao afirmar que um candidato alinhado ao presidente Lula dificilmente chegaria ao segundo turno em Minas. Para o vice-governador, a esquerda não dispõe atualmente de um nome com força suficiente para disputar o centro político do Estado. A avaliação, no entanto, contrasta com os dados das pesquisas mais recentes, que apontam o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PDT) e o ex-presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo (MDB) à frente de Simões. Ambos orbitam o campo da centro-esquerda, sem alinhamento direto ao governo federal.

Minas Gerais tem sido tratada como prioridade estratégica pelo Planalto, diante da dificuldade de estruturar um palanque competitivo no Estado. O presidente Lula tem insistido no nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como alternativa, apesar de o próprio parlamentar já ter sinalizado que não pretende disputar o governo mineiro. Simões ironizou essa movimentação e criticou tentativas de transformar o comando do Executivo estadual em solução improvisada para impasses nacionais.

Ao adotar um discurso de independência tanto em relação ao bolsonarismo quanto ao lulismo, Mateus Simões busca se consolidar como sucessor direto de Romeu Zema. A estratégia, porém, impõe custos políticos imediatos. Ao rejeitar o apoio a Flávio Bolsonaro, o vice-governador tensiona sua relação com o PL e contribui para transformar Minas Gerais em um dos principais palcos de disputa interna da direita nas eleições de 2026.