Tarcísio evita comitiva de governadores e se afasta da crise no Rio

Governador paulista alega conflito de agenda e participa virtualmente de reunião sobre a operação que deixou 121 mortos. Estratégia busca reduzir exposição nacional e manter distância da disputa política.

Tarcísio evita comitiva de governadores e se afasta da crise no Rio

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), optou por não viajar ao Rio de Janeiro para participar da reunião entre governadores que discutem os desdobramentos da operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 121 mortos. Embora tenha sido convidado a integrar a comitiva de líderes estaduais que se encontrará nesta quinta-feira (30) com o governador Cláudio Castro (PL), Tarcísio participará apenas por videoconferência.

Oficialmente, a assessoria do governo paulista atribuiu a ausência a “compromissos de agenda”, já que o governador participou, no mesmo horário, de um evento no Palácio dos Bandeirantes sobre repasses na área da saúde. Nos bastidores, porém, interlocutores admitem que a decisão é estratégica: Tarcísio tenta manter distância de temas nacionais e evitar protagonismo em meio à crise de segurança no Rio.

“Ele não quer assumir liderança nesse momento. Ir ao Rio colocaria todos os holofotes sobre ele, e o foco agora é São Paulo”, disse a um aliado próximo ouvido pelo Brasil no Centro.

A avaliação dentro do governo é de que uma aparição pública ao lado de Cláudio Castro e outros governadores de perfil conservador — como Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR) — poderia alimentar especulações sobre uma candidatura presidencial em 2026, algo que Tarcísio tenta frear desde o início do segundo semestre.

Declaração contida e cálculo político

Até agora, a manifestação do governador paulista sobre a operação foi discreta. Em uma nota publicada nas redes sociais, Tarcísio afirmou que o crime organizado representa “um risco maior que o fiscal” para o Brasil, sem fazer críticas diretas ao governo federal nem assumir defesa enfática da ação fluminense.

Nos bastidores, no entanto, o governador teria dito a colegas que a operação no Rio foi necessária, destacando que “não há como entrar em áreas dominadas pelo tráfico sem confronto”.

A cautela de Tarcísio repete o comportamento adotado nos últimos meses o de evitar pautas de repercussão nacional e reduzir aparições públicas que possam ser lidas como movimentos eleitorais antecipados.

O peso das operações letais

A megaoperação no Rio se tornou a mais letal da história do país, superando o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo. O tema é sensível para o governador paulista: em 2023, uma operação conduzida por sua Secretaria de Segurança Pública, sob comando do bolsonarista Guilherme Derrite (PL), deixou 84 mortos no litoral paulista.

À época, entidades de direitos humanos acusaram o governo estadual de agir por “vingança” após a morte de um policial da Rota. Questionado sobre o assunto, Tarcísio reagiu dizendo que “não estava nem aí” e defendeu a legalidade da atuação da PM.

Entre os governadores que confirmaram presença no Rio, alguns como Caiado e Zema pretendem usar o encontro para pressionar o governo Lula por mais apoio federal no combate ao crime organizado. Em tom mais cauteloso, Tarcísio preferiu se restringir à solidariedade pública a Cláudio Castro e evitar discursos de enfrentamento político.

O governador paulista também não confirmou se pretende disponibilizar efetivos da Polícia Militar para reforçar o patrulhamento no Rio proposta que chegou a ser ventilada pelo secretário Derrite, mas que, até o momento, não foi oficializada.

Disputa de narrativas

Enquanto o governo do Rio tenta sustentar que a operação foi “um sucesso”, o Planalto classifica o episódio como “uma tragédia inaceitável”. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou um escritório emergencial de combate ao crime organizado, mas descartou, por ora, o uso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) medida que só pode ser decretada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tarcísio, por sua vez, segue a estratégia de ficar no meio do caminho: demonstra apoio ao endurecimento contra o tráfico, mas sem se associar diretamente à narrativa de confronto que tem gerado forte reação social.

Em ano pré-eleitoral, o governador paulista tenta consolidar a imagem de gestor técnico e não de candidato em campanha antecipada.