
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deu um passo atrás nas tensões com o Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo aliados, o ex-ministro da Infraestrutura pediu desculpas diretamente ao ministro Alexandre de Moraes por tê-lo chamado de “tirano” durante o ato bolsonarista de 7 de setembro, na Avenida Paulista.
A retratação, feita de forma reservada, faz parte de uma estratégia mais ampla de reaproximação institucional com o Judiciário, em um momento em que Tarcísio busca se consolidar como liderança política de centro-direita, mas sem se confundir com o radicalismo bolsonarista.
Durante o evento cívico, Tarcísio afirmou que “ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Alexandre de Moraes”, ecoando o discurso da militância alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Nos bastidores, porém, o governador reconheceu que a fala não foi planejada e teria sido resultado de pressão da base bolsonarista, que cobrava dele uma posição mais contundente contra o STF — especialmente às vésperas do julgamento que condenaria Bolsonaro por tentativa de golpe.
De acordo com interlocutores próximos, Tarcísio avaliou que o gesto lhe renderia dividendos políticos imediatos com a base conservadora, mas criou uma crise institucional desnecessária. Ao mesmo tempo, ponderou que reconstruir a relação com o Supremo seria mais fácil do que se distanciar do eleitorado bolsonarista em meio a uma conjuntura ainda polarizada.
Nas semanas seguintes, o governador iniciou um movimento silencioso de pacificação política. Reuniu-se com o presidente do STF, Edson Fachin, e participou de um almoço com o decano da Corte, Gilmar Mendes, em Brasília. O gesto foi interpretado como uma tentativa clara de distensão.
Tarcísio tem repetido a aliados que não será candidato à Presidência em 2026, e que seu foco é a reeleição em São Paulo. A sinalização de moderação e institucionalidade, segundo integrantes de seu governo, é parte do esforço para se firmar como uma alternativa de equilíbrio no campo da direita.
Nos bastidores do Supremo, a postura mais cautelosa do governador foi bem recebida. A avaliação é que Tarcísio tem consciência de que o enfrentamento direto ao Judiciário dificulta a governabilidade e isola politicamente quem o adota como bandeira.
Em um cenário de polarização prolongada, o gesto de reconciliação pode ser lido menos como fraqueza e mais como um reposicionamento calculado um movimento de quem busca, no pragmatismo, o caminho da sobrevivência política.