Três meses após motim, Câmara ainda não puniu deputados bolsonaristas

Processos contra Marcos Pollon, Marcel Van Hattem e Zé Trovão seguem parados no Conselho de Ética, e decisões só devem sair em 2026

Três meses após motim, Câmara ainda não puniu deputados bolsonaristas
Marina Ramos/Câmara dos Deputados/Divulgação

Três meses depois da ocupação do plenário da Câmara por parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, nenhuma punição efetiva foi aplicada aos deputados envolvidos no episódio que paralisou os trabalhos da Casa por mais de 24 horas.

Os deputados Marcos Pollon (PL-MS), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC) respondem por conduta incompatível com o decoro parlamentar, mas os processos contra eles ainda engatinham no Conselho de Ética, onde permanecem em fase inicial. O cenário indica que as análises dificilmente avançarão antes do fim do ano.

Durante o motim, Van Hattem e Zé Trovão bloquearam o acesso do presidente da Câmara à sua cadeira, enquanto Pollon chegou a ocupar o assento da vice-presidência, gesto visto como afronta simbólica à hierarquia da Casa. As representações apresentadas pela Mesa Diretora pedem suspensão de 30 dias para cada um.

Além disso, a Mesa solicitou punição específica a Pollon por declarações ofensivas dirigidas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pedindo suspensão de 90 dias.

Apesar da gravidade do ato e da repercussão à época, o avanço lento dos processos é resultado de uma decisão política interna: a Mesa Diretora optou por enviar as representações à Corregedoria da Câmara antes de submetê-las ao Conselho de Ética. O caminho mais rápido seria a tramitação direta no Conselho, o que permitiria uma decisão ainda em 2025.

A escolha, no entanto, refletiu o clima de cautela e desgaste vivido pela Casa após a crise. Parlamentares avaliam que a demora também evita novos embates entre o bolsonarismo e a direção da Câmara, em um momento de recomposição de forças no Congresso.

Enquanto isso, o episódio segue sem resposta institucional. A invasão, que se transformou em um ato de desafio aberto à autoridade do Legislativo, expõe os limites da disciplina parlamentar e o peso do cálculo político na aplicação de sanções.

🗳️ Com o impasse, a Câmara adia mais uma vez o enfrentamento de um problema que vai além do decoro: a normalização da indisciplina e da radicalização no Parlamento.