
A Organização das Nações Unidas enviou uma carta dura ao governo brasileiro cobrando providências imediatas para corrigir falhas na organização da COP30, realizada em Belém. O documento, assinado por Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, foi encaminhado ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao presidente da conferência, André Corrêa do Lago, e ao governador do Pará, Helder Barbalho. Nas linhas mais incisivas, a ONU pede garantias formais de que medidas adequadas de segurança seriam implementadas “até o final do dia”.
O alerta foi motivado pelo episódio mais tenso do evento até agora: a invasão de manifestantes na Blue Zone, área oficial das negociações climáticas, na noite de terça-feira. A ação expôs fragilidades no controle de acesso e colocou em evidência um problema que delegações estrangeiras já vinham relatando reservadamente. No dia seguinte, o caso se transformou em uma disputa pública de responsabilidades entre o governo brasileiro e o sistema da ONU encarregado da segurança.
As críticas, porém, não se restringem ao incidente. Delegados de diversos países apontam desde o início da conferência problemas de infraestrutura, como falhas na climatização de salas, insuficiência de aparelhos de ar-condicionado e falta de água em banheiros. O descontentamento cresceu ao longo dos dias e ajudou a criar o ambiente que culminou na carta oficial da UNFCCC.
Em resposta, a Casa Civil divulgou nota afirmando não ter participado das decisões relacionadas ao controle dos protestos e que a segurança interna da Blue Zone é de responsabilidade exclusiva do UNDSS, departamento da ONU responsável pela proteção de eventos oficiais. Mesmo assim, o governo federal anunciou uma série de medidas emergenciais.
Entre as ações adotadas estão a ampliação dos perímetros de segurança, a instalação de gradis e barreiras metálicas em pontos vulneráveis e a atuação conjunta da Força Nacional com a Polícia Federal na área entre as zonas Azul e Verde. Também foram instalados novos sistemas de climatização e reparados vazamentos estruturais que causaram goteiras em espaços como o Mídia Center.
O governo afirma que todas as demandas da ONU vêm sendo tratadas diariamente e que as correções seguem em ritmo contínuo, compatível com a dimensão do evento. A lista de intervenções tenta conter o desgaste político e diplomático, especialmente em um ano em que o Brasil busca projetar liderança global na agenda climática.
A carta da ONU, no entanto, revela que a organização espera mais do país-sede. Com mais de 190 delegações reunidas e dezenas de milhares de participantes, a COP30 exige padrões de segurança e infraestrutura equivalentes aos de grandes conferências internacionais. O episódio reacende o debate sobre a capacidade do Brasil de sediar eventos dessa magnitude enquanto encara desafios logísticos, climáticos e administrativos.