Violência escolar em Minas: a cada 5 horas um caso é registrado, aponta levantamento

Série mostra impacto do adoecimento mental em estudantes e alerta para necessidade de políticas públicas de prevenção

Violência escolar em Minas: a cada 5 horas um caso é registrado, aponta levantamento
Mikhail Nilov/Pexels
Violência escolar

Um retrato preocupante da educação em Minas Gerais: a cada cinco horas, uma denúncia de violência contra crianças e adolescentes em escolas do estado é registrada no Disque 100, canal nacional de direitos humanos. Os dados, levantados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, revelam 1.207 ocorrências entre janeiro e setembro de 2025, somando mais de 6,1 mil violações — desde agressões físicas e psicológicas até casos de injúria racial, incitação ao suicídio e risco de morte.

Os números embasam a série “Saúde Mental à Prova”, que mostra como a escalada de agressões físicas, verbais e virtuais pode ser expressão de um profundo adoecimento emocional no ambiente escolar.

Tragédias que escancaram a crise

O caso mais emblemático ocorreu em maio deste ano, em Uberaba, quando a estudante Melissa, de 14 anos, foi assassinada dentro da sala de aula por um colega que já havia apresentado sinais de instabilidade emocional. O episódio aconteceu exatamente um ano após relatos de que o jovem demonstrava intenção de autoextermínio.

Tragédias semelhantes se repetiram em diferentes regiões do estado nos últimos anos, somando-se a uma estatística nacional alarmante: de 2001 a 2024, foram 42 ataques violentos em escolas brasileiras, com 44 mortos e 113 feridos, mais da metade deles após 2022.

O peso da insegurança

O impacto vai além dos episódios extremos. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) aponta que 11,3% dos estudantes do nono ano já deixaram de frequentar a escola por não se sentirem seguros. Situações de bullying, violência institucional, punições desproporcionais e até tentativas de violência armada fazem parte desse cenário.

Especialistas alertam que a violência é reflexo de fatores sociais e familiares. “O afeto que falta em casa muitas vezes se transforma em raiva, e essa raiva é descarregada no colega mais vulnerável”, explica o psiquiatra infantil Francisco Assumpção. Já a pesquisadora Cléo Garcia, do Grupo de Estudos em Educação Moral, lembra: “A escola é um espelho da sociedade. As contradições e os conflitos emocionais acabam desaguando ali”.

Caminhos para prevenir

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais afirma adotar protocolos de intervenção em casos de bullying e cyberbullying, além de acompanhamento psicológico e campanhas de prevenção. Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Educação mantém planos de convivência escolar e práticas pedagógicas voltadas à cultura de paz.

Mesmo assim, especialistas avaliam que o desafio vai além da segurança física: é preciso enfrentar as causas estruturais do adoecimento mental, ampliando o suporte emocional a alunos e professores, para que a escola volte a ser espaço de aprendizado e proteção.